Colunista | Rogério Martinez

Edson de Oliveira Lima é um padre de atuação social reconhecida, com a coragem de participar em atos públicos e políticos para defender propostas de atendimento a trabalhadores, comunidades carentes e cidadania em geral.

Em meio a esta atuação participou de um protesto que a justiça legitimaria depois com a suspensão da malfadada tentativa de privatizar os serviços do Daem. E em um discurso inflamado incluiu mensagens que provocaram sua condenação por injúria, uma situação jurídica que não admite a chamada exceção da verdade.

Em resumo: é uma ofensa à honra subjetiva, íntima e mesmo que seja verdade a acusação não exclui a possibilidade de condenação. Quem sabe, tivesse o padre dito que privatizar serviços do Daem transforma promessas em mentira e seria uma safadeza ou que dilapidar patrimônio público é um roubo, sem dirigir a acusação de forma direta, estaria agora livre desta polêmica.

É um caso em que o direito pessoal do ex-prefeito Vinícius Camarinha se choca com o direito à liberdade de expressão do padre. Edson poderia ter sido contundente contra a venda sem atingir a pessoa do prefeito? É uma das discussões do processo.

Pode causar indignação coletiva que uma pessoa correta, de hábitos e posições corretas, seja condenada. Especialmente porque se nem os bons estão acima da lei, não podem os maus estar protegidos por ela e por suas brechas.

Não é justo que a lei valha para o padre mas não atinja poderosos, políticos e “autoridades”. Não é justo que a reação venha com ofensas pessoais com o mesmo ou maior grau de violência contra o padre.

É uma grande bobagem querer pressionar a igreja contra o padre que, para além deste caso, tem uma folha de serviços prestados à comunidade, como é também usar a condenação para defender que religião e política não se misturam quando políticos de todos os lados são useiros e vezeiros em envolver os dois na busca de votos.

Mais que isso: campanhas com manifestações em igrejas e candidatos ligados a grupos e ações religiosos são figuras comuns na disputa.

Não se espera que qualquer religioso, com seu conhecimento teórico e vida dedicada a promover as mensagens de paz difundidas pelas mais diferentes religiões, ofenda qualquer pessoa. Da mesma forma, não se espera que qualquer religioso se cale frente a injustiças perpetradas por poderosos contra a população, que sempre tem entre os mais humildes os mais penalizados. 

Condenar a atuação política de padres foi prática comum das ditaduras, inclusive a brasileira, para evitar que lideranças populares dissessem ao povo o quanto ele é maltratado, traído e enganado.

A condenação diz à coletividade que as manifestações públicas têm limites para os termos e formas usadas. Diz ao ex-prefeito Vinícius Camarinha que ele teve sua honra pessoal atacada de forma indevida.  Mas não exclui a possibilidade de discutir a proporcionalidade da pena ou a atuação do poder Judiciário em relação a outros casos.

Aliás, a repercussão diz à Justiça que se espera a mesma postura contra gente famosa e endinheirada que fala o que quer. O apoio popular e as mensagens de carinho dizem a padre Edson que ele tem espaço e respaldo para manter sua jornada.

Usar mais ou menos adjetivos ou a forma como vai se manifestar é uma decisão pessoal de padre Edson. Prestar serviços à comunidade passa longe de ser um problema para ele, embora o faça, em caso de esta condenação ser efetivada, indignado pelo sentimento de que lutou um combate justo. A condenação diz que ele errou a forma de combater, não diz em momento nenhum que ele ou qualquer outro tenha que parar de lutar.


Giro Marília -Rogério Martinez
Rogério Martinez
Jornalista, editor do Giro Marília

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