Colunista | Rogério Martinez

A questão central no impasse do atendimento no HC é uma só: no jogo de cartas entre a crise do hospital e a crise das prefeituras o cidadão ficou no meio. Está espremido, ameaçado. O HC não pode tecnicamente e financeiramente atender. As prefeituras não têm estrutura. O que faz o doente?

Não faz muito. Poderia fazer muito mais em atitudes de eleição em eleição em todas as cidades. Não parece ter feito. Agora vai ter que se ajustar à crise. É um a mais em crise, a voz mais fraca neste momento da briga.

O doente é vítima das prefeituras, da medida sem planejamento mais antecipado e anunciado pelo HC e é vítima de sua própria atitude política e desatenção.

A ideia de que as cidades precisam assumir responsabilidade pelo atendimento de saúde mais básico é antiga, é discutida anos e anos a fio e conforme o próprio secretário da saúde, Luiz Takano, confirmou, era esperada.

A questão é que as prefeituras dormiram sobre o problema, confiavam – e seguem confiando – que é no jogo político que vão conseguir evitar esta responsabilidade. As prefeituras fizeram o de sempre: jogo político. A carta de prefeitos, o pedido ‘racional´ de prazos para adaptação (foram anos de prazo e não fizeram a lição) e até discursos nas pequenas cidades que soam como chantagem emocional – para não dizer outro tipo de chantagem mesmo.

São mensagens que lembram o apoio das cidades da região para que o HC fosse transformado em autarquia, como se por causa disso o hospital fosse obrigado a resolver o problema das prefeituras e ponto.

Não é. Além disso, autarquizado ou não, o HC vai continuar atendendo os casos de média e alta complexidade destas cidades.
E o cidadão/paciente nem passou perto deste debate.

Nesse jogo as cidades esqueceram o paciente e não foi por acaso.

Estrutura de verdade para saúde, com equipamentos de alto padrão, acessível, com  menos filas, mais servidores prontos para atender, nunca foi exatamente prioridade. A prova é a epidemia de dengue, instalada por absoluta falta de atenção e que pegou todas as cidades de calças – e unidades de saúde - curtas.

O HC adiou a medida por que não pode – sem excluir a possibilidade de que não quis  - evitar totalmente a influência política. Além disso, faz no atendimento seu caixa e na maioria das vezes consegue receber o que atende a mais, a baixa complexidade é renda também.

Além disso, tem seu essencial objetivo de servir como hospital escola. Novos alunos que atendam só no HC vai sair sem saber fazer o atendimento básico? Hospital e prefeituras vão voltar a conversar, vão se ajudar bastante ainda.

O HC vai mudar por que a renda caiu, está em forte crise, deve R$ 7 milhões e antes de virar autarquia vai ter que fazer ajustes. O corte no atendimento é um deles. A saúde não vai assumir com a bomba armada.

Não acaba aqui. Pode até vir o tão esperado prazo a mais com a pressão política na saúde. Nada muda. Com o HC ou sem o HC o atendimento passa longe do ideal. Mesmo que as cidades ganhem prazo, o cidadão ganha pouco. O HC está sobrecarregado, lento, descapitalizado.

E por tudo isso parecer ser uma questão de tempo para mudar. O hospital tende a mudar o serviço antes que os prefeitos mudem o jeito de fazer administração na região. 


O jogo segue e tende a ficar pior. O hospital terá de fazer outros ajustes depois que for autarquia. Ajustes que vão trazer novas ameaças aos serviços, à faculdade e saúde pública. Mas é caso para outro artigo.


Giro Marília -Rogério Martinez
Rogério Martinez
Jornalista, editor do Giro Marília

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