Colunista | Viviane Gonçalves

Dia desses conversando com um amigo sobre o amor nos deparamos com o mesmo desejo: amor com defeitos.

Sim, estamos cansados de amores muito bonitos, capa de revista, cheio de filtros.

Nós queremos o amor Cazuza.

Será que a idade está mexendo conosco?

Pode ser, ou não, talvez só seja mesmo um lampejo de lucidez e maturidade,

De quem acaba de enxergar que o amor tem dias chatos, de cabelos em desalinho, barba por fazer e mau hálito.

Amor tem dias de preguiça, de recusa ao sexo, ao perfume e a roupa bonita.

Veste pijama um dia todo, compartilha a cerveja e o vinho, mas também omeprazol.

Amor vai ao mercado juntos para decidir o que fazer num sábado à noite, ou decide pedir alguma pizza porque está cansado e não quer sair.

É uma delícia sair com um cara bem vestido e perfumado mas o que se compara a deitar no peito de um cara com uma camiseta velha e uma mão disponível ao cafuné?

Eu quero um amor com defeitos, não disse um amor defeituoso.

Amor que engorda, tem celulite, pneus para todos os meios de transporte.

Adora sua lingerie mas  segura a barra contigo, independente de qual ela seja.

Não tem enfeite no defeito.

Tem cheiro de suor, acorda com mau hálito, às vezes aparece de mau humor, é teimoso, é ranzinza.

É cheio de realidade.

Amor  é igual roupa velha, gostosa de usar, confortável e inegociável.

Passou-se o tempo de sonhar com um homem ou uma mulher inexistente. Desejamos alguém que seja plenamente humano para viver uma boa relação.

Pessoas que aceitem conviver sem os filtros do Instagram e sem a proteção de uma tela.

Amor que morda a mesma fruta todo dia e que queira morder de novo.

Amor não morre no cotidiano, tédio ou repetição. Amor morre na ilusão.

Procura-se amor que saiba conviver com a realidade e que deteste conto de fadas.

Procura-se amor para a realidade!


Giro Marília -Viviane Gonçalves
Viviane Gonçalves
Cientista social formada pela Unesp-Marília, uma curiosa nos estudos que se referem às mulheres, adora literatura, filmes e poesias - que aprendeu a gostar com a mulher que via bordados no chão. Acredita que Adélia Prado tinha razão, mulher é mesmo desdobrável.

Matérias anteriores deste(a) colunista >