Colunista | Viviane Gonçalves

Estou velha. Constatação banal.

Fui ao médico e voltei com a certeza de que nem o corpinho é mais de 38.

Nada contra as senhoras de 80 anos, até as invejo. Viver fucking 80 anos é muita coisa. Muita experiência, muitas alegrias no lombo, tristezas nos olhos, às vezes no coração.

Mas uma mulher com 38 anos está toda enferrujada é um tiquinho triste, pelo menos assim minha coluna o diz.

Assim como os joelhos, nunca precisei lembrar que tenho joelhos, chegou o momento. Lembramos dos orgãos e membros quando eles reclamam mau uso.

Pior, envelheço num país que não gosta de pessoas velhas. Nem estou me referindo a questão estética, as marcas que o tempo vai deixando na pele, dos males, o menor.

Me refiro ao descaso em que pessoas velhas são colocadas, diuturnamente, e em todos os espaços em que frequentam.

Em seus lares, hospitais, transporte público, ruas.

Gostaria de entender o que passa na cabeça de uma criatura de 20, 30 anos ao pensar que irá manter-se jovem eternamente.

Por sorte, digo sorte mesmo, envelhecemos. Se envelhecemos bem, melhor ainda, mas a vida tem sua própria estrada e às vezes, muitas vezes, não condiz com a rota que traçamos.

Nunca tive medo da velhice, da gravidade mostrando peso, das marcas que ficam na pele pelo sorriso, choro, ou pelas dobrinhas que aparecem diante da repetição do cotidiano.

Me assusta o descaso. Tenho medo de ficar abandonada em um hospital ou asilo sem ninguém considerar o percurso de uma história longa e interessante.

Dias atrás confessei a minha mãe que a única coisa que quero da vida é ter alguém que me ame no final dela.

A fragilidade do corpo não condiz com a robustez da alma e nós somos consumidos por interesses.

Nossos olhos nos enganam com a mercantilização do belo e do jovem. Fingimos que os velhos não existem e os que existem tentamos esconder.

O que será de nós que não sabemos lidar com a passagem do tempo e com a efemeridade da vida?

Você tem medo de envelhecer porque seu único atrativo está na carne ou porque a velhice te lembra que é finito?

Quanto a mim, recomendações de alongamento e pilates.

Com a seguinte ressalva do médico, se quiser viver muito acostume-se com isso.

Ele se referia as dores físicas, eu entendi da alma.


Giro Marília -Viviane Gonçalves
Viviane Gonçalves
Cientista social formada pela Unesp-Marília, uma curiosa nos estudos que se referem às mulheres, adora literatura, filmes e poesias - que aprendeu a gostar com a mulher que via bordados no chão. Acredita que Adélia Prado tinha razão, mulher é mesmo desdobrável.

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