Colunista | Viviane Gonçalves

Essa semana bombou nas redes sociais um aplicativo que envelheceu todo mundo. Bastava você rolar o dedo pelo feed de notícias do facebook, e lá estavam rostos e mais rostos envelhecidos por um aplicativo.Qual não foi a surpresa de muitos de nós ao nos depararmos com amigos com rostos diferentes daqueles que estamos habituados a ver. Um rosto velho.

Era o mesmo conhecido mas lá com seus 70, 80 anos.

Minha surpresa maior foi ler e ver como alguns desses meus amigos e colegas lidam com a questão do tempo e do envelhecimento e como difere a percepção masculina e feminina do mesmo.

Os homens, em sua maioria, postavam a foto e  legendavam com um "que coroão enxuto", "olha que velhinho simpático", na contrapartida, as mulheres se auto definiam com " Deus me livre envelhecer assim", "olha como eu fiquei horrorosa".

Eu, fiquei com tanto receio de me enxergar de uma forma que não gostasse, que evitei me ver mais velha.

Fato é, envelhecemos! Ou é assim ou morremos jovens e, a maioria de nós, quer chegar até os 80 anos, no mínimo, portanto, envelhecer é um processo por qual passaremos indubitavelmente.

Não estamos preparados para isso, não só pelas questões físicas e estruturais que ocorrem em nosso corpo, nem pelo receio de como viveremos futuramente com uma aposentadoria cada vez mais pífia  e com um futuro tão incerto.

Não estamos preparados porque vemos a velhice como algo feio, sem graça ou algo que nos causa asco. Haja vista o comportamento que a maioria de nós teve diante de um mero aplicativo.

A velhice é aquele negócio do sapato velho que não serve mais, nós temos medo de envelhecer porque sabemos como nossos velhos são tratados em nossa sociedade.

Não são raros os casos de violência física cometida contra pessoas acima dos seus 60 anos. Não só a física, obviamente, mas os assédios, o desrespeito e toda sorte, ou azar, de acometimentos que a idade pode trazer.

Não gostamos da velhice porque não fomos ensinados a almejar a tenra idade, pelo contrário, na nossa sociedade, a juventude é valorizada, a pele viçosa, o glúteo batendo na nuca, sem vincos, sulcos ou efeitos da gravidade que denotem que o tempo está passando.

Para ser mais exata e elucidativa, a Madona, repito, a Madona, não foi perdoada em seu envelhecimento, assim como Xuxa que recebeu inúmeras críticas ao postar uma foto sem maquiagem e denotando que sim, mulheres famosas envelhecem, é um processo natural para todo mundo, todo mundo mesmo.

Existem fatores democráticos socialmente, nascer, crescer, envelhecer e morrer, é democrático, todos podem usufruir, se tiverem sorte, claro.

Envelhecer é para poucos, os homens então, precisam comemorar muito ao chegar à velhice, por uma série de fatores sociais, eles são os que podem morrer bem antes de chegar à velhice.

As mulheres, socialmente, são temerosas com a velhice, nosso corpo, ainda, é percebido como um meio de satisfação do outro, não de nós mesmas, por essa razão buscamos o tempo todo parecer razoável aos outros, no caso os homens, não a nós mesmas.

A velhice feminina traz a invisibilidade de um corpo que é desejável até determinado momento e que  passa a ser invisível para os homens da mesma idade, os "tiozão", que começam desejar mulheres mais novas em detrimento das mulheres de sua idade.

Rita Lee afirmou certa vez que envelhecer não é para maricas, sem problematizar a questão, esse texto não  entrará nessa linha, o que a cantora quis dizer certamente, é que é preciso ser forte para aguentar o baque da idade.

As dores, doenças, a dependência que vai muito além da física em inúmeros momentos, a depressão, a solidão, o abandono, a tristeza de não ter com quem conversar, partilhar ideias, sim, velhos pensam, desejam, querem.

A velhice não nos torna santos, apenas mostra a todos, principalmente a nós mesmos como somos mais frágeis e como perdemos tempo com o que não era importante. Como nos preocupamos demais com cremes, academia, orgulhos bobos, roupas de marca que se desgastam com o pesar do tempo.

A velhice é o supra sumo do ensinamento da vida, não é romântica, embora possa ser, não é bonita, embora alguns consigam enfeitá-la, A velhice é o estágio final de uma passagem pela Terra que prova que somos  tão pequenos e limitados que não conseguimos nem mesmo enxergar que ela chega.

A velhice vem para todos, amigos, e que sorte a nossa se chegarmos lá.

E que possamos enxergar tal qual García Márquez que a velhice é uma assinatura  de um honroso pacto com a solidão.

Não só a velhice.


Giro Marília -Viviane Gonçalves
Viviane Gonçalves
Cientista social formada pela Unesp-Marília, uma curiosa nos estudos que se referem às mulheres, adora literatura, filmes e poesias - que aprendeu a gostar com a mulher que via bordados no chão. Acredita que Adélia Prado tinha razão, mulher é mesmo desdobrável.

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