Colunista | Viviane Gonçalves

Fechava os olhos e conseguia ver perfeitamente seu sorriso, seus dentes brancos e largos, sua gengiva avermelhada que teimava em aparecer.

Ainda de olhos fechados podia ouvir o barulho da sua risada, não era contagiante, mas era alta e eu, achava gostosa.

Lembro do cheiro do seu perfume, adorava o cheiro, mas também gostava do cheiro de sua pele sem nenhuma  fragrância só os feromônios que acordavam os demônios adormecidos em meu corpo.

Hoje, minha mãe comentou que estava com dó da minha tia pois a mesma  está longe dos filhos e netos.

Pensei, saudade não mata ninguém. Não mata mesmo, saudade acompanha a gente dobrando a esquina.

Você vira e encontra o cheiro do perfume de alguém, assiste um programa e recorda que ela gostava.

A saudade fica ali adormecida só esperando o momento certo de ser tocada.

Tem horas até que a gente fica cheio dela e transborda, chora.

É o único sentimento que a gente continua carregando depois de um longo tempo. Ela não permite o fim das coisas.

Um dia, acordei assim, cheia das saudades, transbordando de renascenças.

Olhei de novo aqueles olhos, beijei de novo  a boca, ri o riso junto, grande intimidade.

Disse adeus novamente. Minha saudade tinha sido inventada, só existia na minha memória.

Ah, mais como era pretensiosa e forte!

Molhava meus olhos, apertava meu coração e me convencia que  vivia tudo outra vez e, novamente, podia ser feliz.  E traz teu riso como prova disso.


Giro Marília -Viviane Gonçalves
Viviane Gonçalves
Cientista social formada pela Unesp-Marília, uma curiosa nos estudos que se referem às mulheres, adora literatura, filmes e poesias - que aprendeu a gostar com a mulher que via bordados no chão. Acredita que Adélia Prado tinha razão, mulher é mesmo desdobrável.

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