23/10/2021 as 11:51h por: Saúde
Desde o surgimento da pandemia de Covid-19, a busca por vacinas e, posteriormente, sua eficácia contra o vírus, ganharam o noticiário. O assunto passou a dominar as conversas entre amigos e parentes. Mas como um imunizante é feito? Qual o tamanho do delicado caminho que é percorrido pelos cientistas até que uma vacina possa estar disponível no posto de saúde?
Os imunizantes contêm mínimos fragmentos do organismo que causa a doença ou as matrizes para fabricar essas pequenas partes. As fórmulas são compostas, ainda, por ingredientes que tornam a vacina eficaz e segura para a população. Até que o produto final seja aprovado e liberado, todos esses componentes com nomes complicados são testados pelos pesquisadores: antígeno, conservantes, estabilizadores, surfactantes, resíduos, diluentes e adjuvantes. Até que entrem no programa de vacinação de um país, as vacinas passam por três fases, assim como os medicamentos. Antes disso, porém, exames e avaliações determinam que antígeno (o componente ativo que ativa a reação do sistema imune) deve ser usado para gerar uma resposta satisfatória do organismo. Esta etapa não envolve testes em humanos — as vacinas experimentais são usadas primeiro em animais. Cumpridas as três fases, os resultados são reunidos em ensaios elaborados pelos cientistas. A partir daí, há uma série de trâmites a serem seguidos, como análises de eficácia e segurança para aprovação das entidades reguladoras e de saúde. Uma vacina pode, então, ser descartada ou aprovada de acordo com os relatórios apresentados.Além da apresentação de documentos, o processo de aprovação dos imunizantes contra a Covid-19 envolveu visitas de técnicos a centros de produção e envase.
Considerados soldados do nosso organismo, estão sempre de prontidão para entrar em ação a qualquer sinal de antígenos (1). O problema é quando o invasor, desconhecido, "confunde" os anticorpos, deixando-os sem reação e abrindo caminho para uma nova doença (2). Por isso as vacinas têm partes enfraquecidas ou inativadas de um determinado organismo, que não causam a doença, mas estimulam o sistema imunológico a atuar contra o inimigo. Alguns tipos de vacina necessitam de várias doses, espaçadas por determinado período, para garantir a produção de anticorpos de longa vida e o desenvolvimento de células de memória.
A vacina é aplicada em um pequeno grupo de voluntários, geralmente jovens e adultos saudáveis. O objetivo é avaliar a segurança do imunizante, confirmar se gera uma resposta do sistema imunológico e determinar a dosagem correta.
Com a dosagem definida, o grupo de voluntários cresce para algumas centenas. Nesta fase, os cientistas continuam avaliando a segurança e a capacidade da vacina em gerar uma resposta do sistema imunológico.
Aqui, os participantes têm as mesmas características do público-alvo a que o imunizante se destina. Fazem parte deste grupo pessoas que não receberam a proteção para determinar se as reações entre os vacinados estão ligadas ou não ao produto.
O grupo passa a ser formado por milhares de voluntários, aumentando assim a quantidade de dados à disposição dos cientistas. Normalmente a terceira fase acontece em vários países, garantindo que o desempenho será satisfatório entre diferentes populações.
Nas etapas 2 e 3, tanto especialistas quanto voluntários não sabem quem recebeu a vacina ou o placebo (substância sem efeito físico, mas de caráter psicológico). Chamado de "ensaio cego", este artifício evita influência nas avaliações sobre segurança e eficácia. Os envolvidos são informados somente após a conclusão dos estudos.
Duas das vacinas mais usadas contra a Covid-19 no Brasil, a AstraZeneca e a Coronavac usam tecnologias diferentes. O imunizante fabricado pela Fiocruz recorre ao vetor viral, quando apenas uma parte do código genético do novo coronavírus é usado; já o produto produzido pelo Butantan tem o vírus inteiro, mas também não causa a doença porque foi inativado (o mesmo acontece nas vacinas da gripe).
Em julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o início dos testes da ButanVac em humanos. O imunizante do Butantan é desenvolvido a partir da introdução de um vírus modificado que contém proteína da Covid-19 em ovos embrionados de galinhas. Isso já acontece na vacina contra a gripe (o instituto produz anualmente 80 milhões deste imunizante usando ovos). A tecnologia foi desenvolvida por cientistas na Icahn School of Medicine de Mount Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos.
Em emergências sanitárias como a atual, o uso emergencial de vacinas pode ser posto em prática. Regulamentado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o processo é rápido, porém rigoroso. Neste caso, é levada em conta a relação entre os riscos e os benefícios, de forma que os imunizantes cheguem à população o mais rapidamente possível. Em relação à pandemia de Covid-19, cientistas de todo o mundo trabalharam em várias fases ao mesmo tempo, conseguindo de forma ágil chegar às vacinas que vêm sendo aplicadas.
Após aprovação, as vacinas passam a ser fabricadas em grande escala. Armazenadas em frascos de vidro, devem ser capazes de suportar temperaturas extremas, para que mantenham sua integridade até chegar à população de todo o mundo. A maioria dos imunizantes deve ser refrigerada entre 2 e 8°C. Em abril deste ano, a Anvisa atualizou as exigências de armazenamento da vacina da Pfizer contra Covid-19: entre -25° e -15°, por um período de até duas semanas. Até então, os frascos precisavam ficar em temperaturas que variavam de -90° a -60°.
Mesmo depois de incorporadas ao plano nacional de imunização, as vacinas continuam sendo monitoradas pelas autoridades locais e pela OMS. Entre outros fatores, são analisados os efeitos adversos, a segurança e eventuais quedas na eficácia.