O Hospital da Criança e Maternidade, de São José do Rio Preto, realizou um procedimento inédito no mundo para corrigir uma má-formação congênita em um feto de 33 semanas, ainda dentro do útero da mãe, permitindo que a gestação continue normalmente. 

O feto possuía gastrosquise, uma abertura nos músculos e na pele da parede abdominal que permite que o intestino fique para fora do abdômen. Até então, o paciente só havia sido operado logo após o nascimento. Na manhã desta segunda-feira (17 de junho) médicos do HCM e de outras três instituições corrigiram a anomalia a semanas ainda de ele nascer.


O procedimento, chamado fetoscopia, foi realizado pelos médicos do Hospital da Criança e Maternidade, Hospital Albert Einstein, de São Paulo, Universidade de Taubaté e do Hospital de Baia Blanca, da Argentina. O ineditismo fez com que a equipe fosse convidada para apresentá-lo no Congresso Mundial de Medicina Fetal, a se realizar em 10 dias, na Espanha.

A equipe responsável foi formada pelos especialistas em medicina fetal Gustavo Henrique de Oliveira, do Hospital da Criança e Maternidade, e Gregório Lorenzo Acácio, da Universidade de Taubaté, pelos cirurgiões Denise Lapa e Rodrigo Russo Gonçalves, do Hospital Albert Einstein, e pelo cirurgião argentino Javier Svetliza.

Denise Lapa, que desenvolveu esta técnica de fetoscopia, ressaltou que o sucesso deste feito inédito deve-se ao trabalho da equipe, motivada pelo impacto emocional da evolução médica para a paciente. "Poder pegar seu filho no colo no momento que ele nasce, poder amamentá-lo é extremamente importante, precioso para a mãe", disse Denise.

Os médicos precisaram de 1 hora e 40 minutos para realizar este procedimento, que se assemelha a uma laparoscopia, sendo minimamente invasivo. Eles fazem quatro pequenas incisões na barriga da mãe por onde introduzem os braços, instrumentos que lhes permitem ver o interior do útero e corrigir a má formação, introduzindo o intestino no abdômen do feto e fechando a parede abdominal.

Gustavo Oliveira cita outros benefícios para a saúde e bem estar do futuro bebê e da mãe. O primeiro é a segurança do procedimento. “O feto é operado no ambiente mais estéril possível, que é o útero materno, ao contrário da cirurgia convencional, feita após o nascimento, já exposto ao ambiente da sala cirúrgica. Com isso, o risco de infecção ao feto é extremamente reduzido”, explica o médico do HCM de Rio Preto.

Outra grande vantagem é o fato de o bebê nascer sadio, o que permite mamar imediatamente no seio da mãe e ter alta hospitalar em dois ou três dias. Já o bebê que se submete à cirurgia de correção da gastrosquise após o nascimento tem as alças intestinais muito inflamadas, o que o impede de mamar e precisa permanecer, em média, 30 dias internado, recebendo nutrição parenteral. Só terá o contato com o seio materno após este período.

"Quando essa cirurgia é feita após o nascimento, o intestino já tem um dano inflamatório grande, muitas vezes nasce muito inchado e rígido e é mais difícil colocar para dentro, por isso o tempo de internação tão grande", explica Gustavo. "Se corrige dentro do útero, o intestino não sofre o processo inflamatório tão intenso e já está se acostumando."

O Hospital da Criança e Maternidade de Rio Preto realiza já há cinco anos a gastroesquise convencional, tendo uma das equipes mais experientes do país neste procedimento. “Natural, portanto, que coubesse ao HCM a responsabilidade de fazer o primeiro procedimento do mundo. Todos estamos muito felizes porque abre-se agora a possibilidade de beneficiarmos milhares de futuros bebês no Brasil e no mundo”, afirma a cirurgiã Denise Lapa.



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