Perícia realizada com suporte de uma instituto da Bósnia identificou o primeiro desaparecido político desde a retomada dos trabalhos de análise das ossadas do Cemitério de Perus, na zona norte paulistana, em 2014. A partir de exames de DNA realizados pela Comissão Internacional de Pessoas de Desaparecidas foi atribuída a identidade de Dimas Antonio Casemiro aos restos mortais encontrados no ossário.

Com então 25 anos, Casemiro foi torturado e assassinado por agentes da repressão da ditadura militar (1964-1985) em 1971. Militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares e do Movimento Revolucionário Tiradentes, ele teve a morte acobertada, segundo a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, com um falso relato de tiroteio em 19 de abril daquele ano.

O seu nome já constava como um dos prováveis desaparecidos no local. Natural de Votuporanga, no interior paulista, Dimas teve um irmão mais velho, Dênis, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), executado em maio do mesmo ano. A lista de possíveis  sepultados como indigentes na vala inclui nomes conhecidos de militantes que enfrentaram a ditadura, como Yuri Xavier de Almeida, Antônio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria de Moraes Angel Jones.

Também estariam entre as ossadas os despojos do estudante Francisco José de Oliveira, de Cabrália, que passou boa parte da juventude em Marília antes de mudar-se para São Paulo onde cursava Ciências Sociais. Chicão, como era chamado na cidade, foi enterrado com o nome falso de Dario Marcondes no cemitério de Perus, mas os policiais sabiam como ele realmente se chamava. No laudo necroscópico, além da letra T de terrorista, seu verdadeiro nome foi grafado à mão no documento.


Vala clandestina

O processo de investigação sobre as ossadas de Perus tem um histórico de quase 30 anos. A vala clandestina foi aberta em setembro de 1990, durante a gestão da então prefeita Luiza Erundina. No local, foram encontradas 1.049 ossadas sem identificação de vítimas de esquadrões da morte, indigentes e presos políticos.

Na época, a prefeitura determinou a apuração dos fatos e fez um convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a identificação das ossadas. Até hoje, apenas três pessoas tiveram as identidades confirmadas. Entre elas, o irmão de Dimas, Dênis Casemiro.


O trabalho foi interrompido e, em 2002, as ossadas foram levadas para o Cemitério do Araçá, na capital paulista, sob responsabilidade da Universidade de São Paulo (USP). Em 2014, por meio de cooperação da antiga Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) do governo federal (atual Ministério dos Direitos Humanos), da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o trabalho de identificação dos restos mortais resgatados da vala clandestina do cemitério de Perus foi retomado.

No caso de Casemiro, a análise genética foi confirmada por estudos antropológicos, informações odontológicas e de altura, idade e causa da morte do militante, quando causada por arma de fogo. Os resultados dos exames de DNA foram obtidos no último dia 16, após comparação do material encontrado na vala com amostras de sangue de familiares do ativista.



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