
Poucos sabiam, mas o céu da internet global está ficando cada vez mais disputado. A China acaba de colocar em órbita um novo gigante: a SpaceSail, projeto da Shanghai Spacecom Satellite Technology Ltd, empresa apoiada pela prefeitura de Xangai e por fundos estatais. Com um investimento de 6,7 bilhões de yuans — cerca de R$ 4,8 bilhões —, o país asiático quer desafiar diretamente a Starlink, de Elon Musk, e levar internet ultrarrápida a regiões ainda desconectadas, incluindo o interior do Brasil.
O plano é ambicioso. A constelação batizada de Qianfan (Mil Velas, em mandarim) pretende lançar 648 satélites de órbita baixa (LEO) até o fim de 2025, com meta de atingir 15 mil unidades até 2030. O objetivo é criar uma rede global capaz de oferecer conexão estável e veloz até nos lugares mais remotos do planeta.
A chegada da SpaceSail ao Brasil
O interesse brasileiro não é coincidência. O país é um dos maiores mercados emergentes e ainda tem milhões de pessoas sem acesso à internet de qualidade. Para mudar esse cenário, a SpaceSail firmou um acordo com a estatal Telebras, permitindo que a tecnologia chinesa comece a ser usada em áreas sem fibra óptica ou sinal 4G.
A iniciativa coloca o Brasil como ponto estratégico da expansão global da SpaceSail, sendo o primeiro país latino-americano oficialmente incluído no projeto. Analistas acreditam que essa presença pode transformar o país em um centro operacional importante para a constelação chinesa no hemisfério sul.
A ofensiva chinesa contra a Starlink
Com forte apoio do governo de Xangai, a SpaceSail pretende oferecer planos até 30% mais baratos que os da Starlink, mirando regiões rurais, escolas públicas e pequenos negócios. A empresa aposta em antenas menores e mais fáceis de instalar, além de sistemas que se integram a dispositivos de Internet das Coisas (IoT).
Enquanto a Starlink enfrenta obstáculos regulatórios e altos custos de operação em vários países, a China avança com agilidade, aproveitando lacunas deixadas por Musk. A estratégia da SpaceSail é simples: crescer rápido, ocupar espaço e se tornar indispensável.
O novo tabuleiro da conectividade global
Além da disputa comercial, existe um pano de fundo geopolítico. Para Pequim, dominar a conectividade global é questão de soberania tecnológica. Para Washington, é uma ameaça direta à liderança digital dos Estados Unidos.
No meio dessa briga de gigantes, o Brasil surge como palco privilegiado dessa disputa bilionária. A SpaceSail ainda está em fase inicial, mas seu potencial é real — e suficiente para tirar o sono da Starlink.
Se cumprir as metas de lançamentos e consolidar a parceria com a Telebras, a China pode transformar o país em uma nova fronteira da internet orbital. O jogo começou, e o tabuleiro agora passa também pelo céu brasileiro.