
Às 16h32 desta segunda-feira, foi lançada a partir de uma base da Força Aérea dos Estados Unidos uma missão que coloca em órbita um projeto ousado em parceria por um laboratório da Alemanha e a Nasa para testar desenvolvimento de alimentos e bactérias no espaço.
A missão: testar produção para abastecer viagens e bases futuras na Lua ou em Marte. E os experimentos da Nasa colocam em prática uma longa e inovadora pesquisa controlada por um mariliense, o biólogo Ivan Gláucio Paulino Lima.
Parte da cidade conhece pessoalmente o professor Ivan por experiências de observação do espaço com telescópios, um hobby que ele estimula quando está em Marília, onde preside o Grama (Grupo Regional de Astronomia de Marília).
Mas o pesquisador, formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina, onde fez o mestrado, com doutorado em Biofísica pelo Instituto Carlos Chagas Filho, da UFRJ, atua com projetos de microbiologia, engenharia genética e radiobiologia na Nasa.
O objetivo é saber se processos biológicos básicos como crescimento bacteriano, produção de proteínas e transformação genética poderão ser reproduzidos em outros mundos.
“Esses processos farão parte da rotina dos futuros navegantes do espaço na medida em que toda a microbiologia empregada em diferentes indústrias aqui na Terra forem sendo transferidas para mundos além do nosso”, diz o pesquisador mariliense em artigo publicado pelo portal UOL.
O estudo tem inovações, como movimentação do satélite para permitir reprodução do nível de gravidade da Lula e de Marte sobre as bactérias e os alimentos. Os resultados serão importantes para eventuais projetos de desenvolvimento de verduras, legumes e frutas em bases no chamado espaço profundo, além da Lua.
“Tenho muita esperança de viver para testemunhar a chegada da humanidade a Marte. Mas, se eu não estiver por aqui, por favor transmitam meu recado às(aos) astronautas do futuro: “Foi uma grande satisfação dar os meus dois centavos de contribuição para a sua jornada. Espero que cuidem bem deste planeta e das próximas paradas. Que os nossos erros de agora vos ensinem a agir com mais sabedoria. Sintam-se abraçados e encorajados a perpetuar a herança da humanidade”, diz o pesquisador no artigo.
Ivan Paulino Lima conversou com o Giro Marília para falar sobre a experiência, as expectativas com o estudo
Giro Marília – A ideia é estudar a viabilidade de produção de alimentos e micros organismos que possam criar sistemas sustentáveis de produção de alimentos em missões tripuladas?
Ivan Gláucio Paulino Lima – Sim a ideia básica é essa mesmo. A missão é uma parceria entre a NASA e agência espacial alemã DLR. Os alemães vão desenvolver tomates no espaço e nós da NASA vamos desenvolver bactérias no espaço.
GM – Como é o projeto e qual duração?
Ivan Paulino – O grande diferencial dessa missão é a capacidade de controlar a rotação do satélite para simular a gravidade da Lua e depois de Marte. Com isso podemos testar experimentos em diferentes níveis de gravidade por um longo período.
O tempo total da missão como um todo será de pelo menos 1 ano e meio. Mas a parte da NASA deverá ser concluída e pouco mais de 1 ano.
GM – E qual a sua participação na missão?
Ivan Paulino – Eu sou o Co-Investigador Principal da Missão. Fui responsável por planejar, otimizar e executar os experimentos nos testes em Terra e sou o responsável pelos testes de longa duração ainda em andamento em Terra, pelos controles experimentais em Terra, que são uma réplica dos experimentos em órbita e também pelo processamento e análise dos dados que receberemos do satélite.
Ao final da missão, o satélite vai sofrer reentrada na atmosfera e vai se desintegrar completamente antes de atingir o solo.
GM – A missão já tem expectativa de resultados conclusivos sobre a produção diversificada de alimentos no espaço? Qual a expectativa?
Ivan Paulino – Essa missão será uma primeira demonstração do uso de organismos vivos no espaço com o intuito de produção de alimentos para os futuros astronautas que viajarão em missões de longa duração para o espaço profundo, ou seja, distâncias além da lua.
O desempenho desses organismos nesses diferentes níveis de gravidade fornecerá um indicativo de como um vegetal, legume, verdura, fruta se desenvolverá nesses ambientes.
Da mesma forma o desempenho da bactéria Bacillus subtilis indicará se os processos biológicos que estamos testando, ou seja, crescimento bacteriano, produção de proteínas e transformação genética, poderão ser executados em outros mundos.
Isso será fundamental para no futuro implementar em Marte indústrias que utilizam micro-organismos, como por exemplo na fabricação de pão e outros alimentos e bebidas, indústria farmacêutica, agropecuária etc.