A pesquisadora Cássia Navas Alves de Castro, professora Instituto de Artes/UNICAMP, divulgou nesta segunda-feira um apelo na internet para que o programa nacional de imunização inclua entre os grupos prioritários pessoas com deficiência e condições permanentes que podem agregar agravantes para casos de Covid-19.
O apelo inclui informações sobre países que já iniciaram programas de imunização para esta faixa do público. Lembra que algumas condições são acompanhadas por comorbidades, outros quadros clínicos que podem agravar o impacto da doença.
O documento é replicado por diferentes profissionais e grupos de mensagens como um alerta aos serviços oficiais de Saúde.
Cássia Navas é neta do escritor e alfaiate Osório Alves de Castro, que passou maior parte da sua vida em Marília, onde escreveu e publicou o livro Porto Calendário, vencedor do prêmio Jabuti em 1961, e criou os seis filhos, incluindo o advogado Terto Alves de Castro, pai da pesquisadora.
Você pode compartilhar a mensagem original. Veja abaixo o texto:
Salvar mais vidas, um apelo
São Paulo, 8 de março de 2021
Neste momento sem precedentes em nosso pais, sinto na pele e acompanho a ansiedade das famílias de jovens e crianças cujas deficiências geram comorbidades. Com duas irmãs médicas na linha de frente (SUS e SAMU) e um pai com 84 anos, festejei a decisão de se vacinar os mais idosos e os profissionais da saúde. Foi um acerto que se impôs.
Mas grupos tão e talvez mais expostos e vulneráveis às consequências do coronavírus já deveriam ter sido incluídos nas primeiras fases da vacinação, como os jovens portadores da pouco notificada síndrome de Prader-Willi, um deles aqui ao meu lado, quando escrevo este apelo: milha filha.
Através de uma pesquisa recente, difundida no Fórum Econômico Mundial, ficamos sabendo que no Reino Unido grande parte das mortes por Covid-19 atingiram pessoas com algum tipo de deficiência.
Ainda que saibamos das diferenças entre doença e deficiência (esta tratando-se de uma condição e não de uma doença em si), não podemos ignorar que deficiências podem estar associadas a comorbidades, como a obesidade severa (fruto de questões neurológicas) e os déficits cardíacos/pulmonares graves (fruto de problemas neuromusculares). Tal também acontece no âmbito de certas Doenças Raras e mesmo com a síndrome de Down.
Todos estes fatores impactaram (e impactarão) os números de mortes pela pandemia. No Brasil, estas pessoas contam mais que um milhão e todas continuam sem saber quando receberão a vacina. Pelo cronograma, sabemos somente que serão vacinadas depois dos que tem entre 60 e 64 anos.
E até lá? O que fazer além de acalmar o coração, trabalhar dobrado, pagar impostos, ter esperança, ficar em casa, usar duas máscaras, doar duas cestas básicas por mês para quem tem fome, cuidar do corpo e do espírito de nossos filhos com deficiência?
Isto tudo já não basta!
Com o intuito de mais fazer, segue este apelo para que mandatários, secretários e técnicos sejam informados sobre esta situação. E talvez, por estes argumentos convencidos, lançarem mão, a partir da autonomia de estados e prefeituras, de suas prerrogativas para buscar soluções para estas pessoas, num período que sabemos ser de escassez de vacinas.
Uma destas soluções? Tomo a liberdade de indicar, em conjunto com outros profissionais e famílias: seria a de interpolar estes grupos a outros já previstos nas primeiras etapas da vacinação.
Neste caso não se trata de uma providência a ser obtida por meio de pressão/lobby por privilégios, posto seus motivos serem de absoluta natureza científica e humanitária.
Segue este apelo, com respeito, e pelo qual também aproveito pra agradecer aqueles que, em muitas trincheiras desta guerra (pois é, estamos numa espécie de guerra) lutaram, lutam e lutarão, sem cessar e sem receio, pela vida de tantos, de todos.
Cássia Navas Alves de Castro: ensaista e pesquisadora, professora Instituto de Artes/UNICAMP e mãe da Clara Castro Arcieri