Marília

Estudante umbandista denuncia intolerância religiosa em cemitério de Marília

Oferendas deixadas no Cruzeiro e espaço limpo no dia seguinte: “sempre limpo” – Arquivo/Pessoal
Oferendas deixadas no Cruzeiro e espaço limpo no dia seguinte: “sempre limpo” – Arquivo/Pessoal

O estudante de enfermagem Daniel Lucas, 20 anos, umbandista, usou redes sociais para denunciar um caso de intolerância religiosa durante visita ao cemitério do distrito de Avencas, onde tem parentes sepultados. Elediz ter recebido orientação para retirar as oferendas.O sub-prefeito do distrito, Paulo Cèsar, nega intolerância e diz que pediu retirada de todo material após as orações em respeito a outras manifestações.

Umbandista, o estudante tradicionalmente faz oferendas. Na última visita, além das sepulturas dos familiares, fez oração e deixou água e pão junto ao Cruzeiro, como manifestação por todos os sepultados. Também deixou pipocas para orixás.

“Agosto é mês do orixá Obaluaê/Omulu. Fui hoje pedir cura, proteção, saúde aos enfermos e aos necessitados, e conversar com o senhor da Terra. E então o sub-prefeito do distrito de Avencas veio dizendo que não estava certo o que eu estava fazendo”, disse Lucas na mensagem em redes sociais.

Daniel afirmou que a umbanda considera o período como uma passagem e maior atenção do orixá, considerado protetor da saúde e vida. Diz que além de ser pessoa conhecida no distrito também mantém com tradição suas manifestações religiosas.

“Passei pelo túmulo do meu irmão que faleceu de Covid, fui levar água, ele era espirita. Ouvi trator mas não parei. Percebi a chegada dele, que parecia contrariado. Eu falei:  amanhã eu venho tirar. Avisei que vou ao dia seguinte tirar, fazer a limpeza.”

Segundo o estudante, o vice-prefeito reagiu com críticas e teria dito que era um procedimento ”feio” e ele deveria tirar tudo naquele momento. “Ele perguntou: ‘se você é umbandista então o que você fazia na igreja católica?’. Disse que estava havendo um sepultamento e as pessoas não iriam gostar daquilo.”

Daniel manteve as orações e oferendas. Voltou no dia seguinte para retirar todo o material que deixou, como faz em todas as visitas. “Sempre tive respeito com o local, com outras religiões.

“Quando entrei como subprefeito, conversamos, ele falou: quando eu faço eu limpo. Não tenho o que questionar.Mas nesse dia haveria um enterro de uma família, horário em que chegava depois do almoço, 13h30. Esperei ele fazer a oração, ele arrumou e estava saindo.Eu falei: Daniel, o que ficou no Cruzeiro você vai retirar. Vai haver um enterro, vai vir acender uma vela, aí pessoal vai questionar”, disse.

Segundo Paulo César, a preocupação não é com o ato das oferendas, mas o fato de ficarem no localem que pessoas de outras religiões fazem suas orações. “Nada contra a religião, contra a crença. Acho que ele distorceu. O questionamento foi só aquele momento: ele fazer e tirar. Mas a pessoa que chega não tem obrigação de saber. Vai chegar e às vezes não acende uma vela com receio.”