
“Passei a noite com a Adriana. Se o Dhaubian descobrir me mata”. Foi assim que Daniel Ricardo Silveira, 37 anos, explicou a colegas de trabalho do Motel Fênix, à margem da rodovia SP-294 em Marília, seu cansaço na manhã do dia 31 de outubro, um domingo.
As informações estão entre detalhes apresentados no inquérito da Polícia Civil de Marília encaminhado à Justiça e ao Ministério Público para encaminhar a acusação de homicídio qualificado. O relatório mostra os últimos momentos de todos os envolvidos, revela fraudes na cena do crime e inclui vídeo com momento em que Daniel é morto. Pede a prisão preventiva do coronel.
A frase profética listada no relatório foi dita às 6h08, ele chegava para dormir no quarto 19, que ocupava desde maio. Às 6h10 foi atingido por quatro disparos efetuados por Dhaubian Braga Brauioto Barbosa, um coronel da reserva da Polícia Militar. Diria suas últimas palavras: socorro, ouvidas por clientes do motel.
Dhaubian vivia há nove anos em união estável com a Adriana, também policial militar. Daniel, ex-detento que começou a trabalhar para Dhaubian quando ainda cumpria pena no regime semiaberto, completa o inusitado triângulo amoroso que causou o crime.
Confira algumas das conclusões da polícia sobre o caso e o vídeo com momento dos disparos.
– A última noite
Daniel e Adriana viajaram de forma separada na tarde de sábado, mas estiveram juntos em um motel de Assis até 1h30 do dia do crime. O ajudante foi deixado na rodoviária e Adriana voltou de carro, sozinha, para Marília. Daniel chegou de ônibus, pegou um Uber e foi ao Motel.
– “Crime premeditado”
A polícia aponta que o crime foi premeditado e lista algumas informações para embasar a conclusão: Daubian teria dito à esposa que iria sair para caçar, um de seus hobbies. Foi a senha para Adriana sair em viagem para o encontro.
“Ocorre, que DAHUBIAN passou a noite inteira esperando DANIEL retornar, pois já havia descoberto que ele estava em Assis com ADRIANA”, diz a polícia. Normalmente o coronel chegaria a seu motel por volta das 6h. Naquela manhã chegou às 5h25.
– Os tiros
Daniel chega ao motel, de Uber, às 6h08. Passa pela portaria e atravessa um longo corredor em direção a quarto em que dormia, o 19. Imagens mostram que ele passa por uma funcionária e que ao chegar ao final do corredor encontra o atirador.
O vídeo mostra sinais dos disparos, Daniel cai, o atirador faz alguma movimentação no local e sai. O coronel deixa o motel com sua camionete. Foi atingido por um tiro de raspão no ombro direito, um tiro de raspão no flanco direito; um na região da nádega esquerda e um na região sacral – no final da coluna – com entrada de trás para frente.
– A morte
Daniel caminha pela área junto à garagem dos quartos vizinhos. Deixa marcas de sangue na garagem 21, se arrasta pela parede da garagem 22 e cai na entrada da garagem do apartamento 23. Clientes que estavam no motel dizem ter ouvido os tiros e o último pedido de Daniel: socorro.
– A fraude com telefone
A polícia apurou ainda que Adriana, a esposa do coronel, foi a responsável por retirar o celular de Daniel da cena do crime. Ele teria pedido a uma camareira para esconder a arma. Segundo o inquérito, a retirada foi percebida e o telefone devolvido.
– A fraude com arma plantada
Ao lado do corpo de Daniel, a polícia encontrou uma pistola Glock .40 usada por Adriana em seu trabalho na polícia. Seria a prova de que Dhaubian reagiu a uma ameaça. Mas a polícia identificou sinais de que a arma foi plantada no local: vestígios de sangue no cano da arma e marcas de sangue pisoteado embaixo da pistola, por alguém com um calçado que não era da vítima, indicam que a arma foi colocada no local.