Economia

No quinto ano em vigor, teto de gastos sofre ameaças por eleições

No quinto ano em vigor, teto de gastos sofre ameaças por eleições


source

Aprovada em 2016, já no governo Michel Temer, o teto de gastos já foi alvo de críticas de políticos e especialistas, mas também elogiado por agentes do mercado financeiro. Entretanto, a necessidade do governo em aumentar gastos em ano eleitoral e manter a próxima gestão em dia podem fazer com que a regra tenha prazo de validade.

Na época da aprovação, a medida serviria para reduzir a dívida pública do país, segurando os gastos feitos no ano anterior somado a inflação. A partir desta conta, você teria o limite de gastos para o ano vigente.

No início, a proposta foi alvo de críticas de políticos de esquerda e alguns especialistas, que viram a proposta como uma tentativa de desestabilizar o país economicamente. Mas, na visão do mercado financeiro, a medida se fez necessária para segurar as contas do país e melhorar a confiança dos investidores. Ou seja, furar o teto, segundo o mercado, é o que prejudicaria o desenvolvimento econômico do país.

Após a vitória, o mercado passou a ver crescimento em investimentos e projetou o crescimento econômico com a entrada de um apoiador do teto: Paulo Guedes. Com agenda liberal, Guedes prometeu entregar ao mercado o melhor dos mundos econômicos.

No último ano, entregando, o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro passou a ser pressionado a liberar verbas para propostas populistas, visando as eleições de 2022. Ao receber do Palácio do Planalto a notícia sobre a necessidade de readequar o orçamento para um novo programa social, Guedes ganhou um balde d’água fria ao ver os gastos previstos com precatórios em 2022.

Com custo de R$ 89,1 bilhões em dívidas judiciais, o governo optou por criar outro teto, desta vez sobre precatórios. A medida, conhecida como PEC dos Precatórios, também alterava a regra de cálculo do teto de gastos para liberar espaço para o Auxílio Brasil. A alternativa causou reboliço no mercado financeiro, que interpretou a medida como furo no teto.

E não deve ser diferente neste ano. Nos bastidores, o Planalto sabe que precisará liberar verba para parlamentares em troca de apoio no Congresso e nas eleições. E se necessário for, terá que furar o teto de gastos.

Leia Também

Outros presidenciáveis também se mostraram críticos ao projeto. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, por exemplo, disse que a regra será extinta, caso o partido volte ao poder. Já Sérgio Moro e Ciro Gomes se mostram a favor de mudanças da proposta.

O único candidato que se mostrou favorável a manutenção da regra é João Doria (PSDB). Seu ministro, inclusive, deverá ser Henrique Meirelles, pai do teto de gastos.

Especialistas admitem ser preciso aumentar investimentos e ressaltam que a regra impede a alavancada do país.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o economista Marcos Mendes afirmou ser necessário um estudo para mudanças na regra. Ele é um dos membros da equipe de Meirelles na criação do teto.

“A partir de 2023, vai ser preciso repensar essa regra e chamar a sociedade para fazer um novo pacto, mostrar a importância do controle fiscal no curto, no médio e no longo prazo e redesenhar uma regra que seja aceitável para todos”, afirmou Mendes.

“Não vai ser simples, porque a desorganização fiscal, principalmente ao longo de 2021, tem sido muito forte. Reorganizar uma regra que seja crível, que todo mundo aceite e acredite que vai ser cumprida logo depois de ter sido feito uma para desmoralizar e fazer um enorme furo no teto vai ser bastante difícil”.