Marília

Audiência mostra cenário de caos e pressão judicial para justificar concessão do Daem

Ricardo Hatori, presidente do Daem, Levi Gomes, chefe de gabinete do prefeito Daniel Alonso, e o assessor de governo Alysson Alex durante audiência pública – reprodução
Ricardo Hatori, presidente do Daem, Levi Gomes, chefe de gabinete do prefeito Daniel Alonso, e o assessor de governo Alysson Alex durante audiência pública – reprodução

Abastecimento próximo do colapso, necessidade de obras em estações de água, poços “se esgotando” e despesas exageradas do Daem. A primeira audiência pública para apresentar o projeto de concessão dos serviços de saneamento em Marília apresentou um cenário caótico aliado a previsão de ordens judiciais para investimentos que o departamento não poderá fazer.

A audiência foi realizada na manhã desta segunda-feira no auditório do gabinete no segundo andar da prefeitura com baixa participação popular, sem possibilidade de debates e poucas novidades.

O Sindicato dos Trabalhadores em Serviços Públicos tentou na Justiça uma ordem para alterar local e horário da audiência, mas o pedido foi rejeitado pela Vara da Fazenda Pública na cidade.

O quadro de dificuldades técnicas e de manutenção uniu apresentação das projeções negativas e imagens de estruturas físicas com más condições desde a captação de água até tratamento de esgoto.

Além disso, a audiência indicou que uma ação judicial já em fase de execução prevê obrigação de investimentos e serviços para os quais a cidade não tem estrutura sem a concessão.

O cenário de crise projetado aponta fatores setorização da distribuição de água para evitar falta generalizada, substituição da rede de distribuição, substituição e ampliação da rede de esgoto e até ampliação das recém instaladas estações de esgoto, apresentadas como ‘a obra do século’.

O quadro oficial inclui ainda a informação de que manutenção e operação dos sistemas do Daem são ineficientes, gastos com folha de pagamento de funcionários em demasia; fundo de pensão e aposentadoria dos servidores crescente ano-a-ano.

Atual chefe de gabinete do prefeito Daniel Alonso, o ex-secretário da Fazenda, Levi Gomes, conduziu a audiência e apresentou o cenário. Disse ter visitado diferentes cidades e comparado sistemas. Lamentou as condições da estrutura em Marília.

“Aqui é tudo improvisado, é cordinha. Você vai em outra cidade é tudo feito…é dia e noite a diferença. Nós estamos atrasados 50 anos em termos de tecnologia de água, distribuição, controle e tudo mais”, afirmou.

Levi disse ainda que a Prefeitura e Daem não têm como buscar os recursos para investimentos necessários. E fugiu de previsões quando perguntado sobre o impacto da concessão em tarifas.

“Investimento são coisas que precisam ser bem entendidas. Óbvio que as empresa não vem para brincar, é empresa, vive de lucro, vive de resultados. Mas existe um conteúdo. Você tem que investir e tem que avaliar. Investir tanto e qual minha taxa de retorno, em qual tempo? Aonde quero botar minha taxa de retorno? É assim que as empresas avaliam para fazer investimento. Por isso faz a concessão em 35 anos. Se fizer em dez não aparece nenhum Dez primeiros manutenção de capital e investimento. Por isso se faz com 35”, disse.

A prefeitura fará nova audiência sobre o tema no dia 27. É preciso fazer agendamento para participar presencialmente e apresentar questionamentos. A participação não dá direito a réplica ou debate sobre a proposta, o público pergunta, ouve a resposta e se tiver interesse volta à fila para nova pergunta.