Tiros e morte na Festa de Promissão

Fim do sigilo: veja detalhes da sentença contra delegado que matou menina

Fim de sigilo judicial revela sentença e mais decisões na morte de Katrina Bormio Silva em Promissão. Delegado Vinícius Martinez deve ir a júri.

Fim do sigilo: veja detalhes da sentença contra delegado que matou menina
Imagem destaca delegado à frente dos PMs, o suspeito e o grupo e concentração no local

Marília - O fim do sigilo judicial revelou na segunda-feira detalhes da sentença contra o delegado Vinícius Martinez, autor de disparo que matou a menina Katrina Bormio, 16.

É uma sentença de pronúncia, que não condena nem absolve, mas manda o delegado, que vivia em Marília, para julgamento pelo júri popular.

O documento mostra interpretação para o risco, lista depoimentos e interpretação dessas informações. Conclui a existência de índices de crime contra a vida, que tem tramitação exclusiva pelo júri.

Para a acusação, o delegado matou por dolo eventual – assumiu o risco – com qualificadores, enquanto para defesa foi, no máximo, por forma culposa, sem intenção.

Fim do sigilo: veja detalhes da sentença contra delegado que matou menina
Delegado chega ao suspeito de desacato enquanto ocorre dispersão após disparos

Mas a decisão inclui a quebra do sigilo e até o fim da obrigação do repouso noturno, com aval do Ministério Público, para impedir eventual antecipação de pena.

Assim, o juiz Renan de Assis Gomes Santos, da 2ª Vara Judicial, apresenta em 105 páginas argumentos para mandar Vinícius Martinez ao júri popular.

A publicação da sentença abre, contudo, prazos de recurso para reverter ou tornar mais grave a decisão.

A morte de Katrina aconteceu em 4 de agosto do ano passado quando a menina deixava a Festa do peão de Promissão.

O delegado interveio em caso de desacato entre policiais militares um homem que tentava entrar com bebida – Edivaldo Aparecido Gimenes -. Assim, fez quatro disparos, mas só atingiu Katrina: veja detalhes da decisão

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Delegado deixa local do conflito enquanto a aglomeração segue no local

– Dolo eventual

“O resultado morte de alguma das pessoas que estavam nas proximidades era PREVISÍVEL”, diz o juiz, que cita condições para isso

  • Disparar em direção a aglomeração de pessoas, que estavam, a princípio, em seu campo de visão
  • Percepção de todos os outros policiais (de que não era necessário disparar arma de fogo para vencer a resistência de Edivaldo)
  • Trajetória de ao menos dois disparos – na região dorsal de Edivaldo. Laudo mostra que o disparo que atingiu Katrina não foi para o alto nem para o chão.
  • “Deliberada persistência, em tese, em disparar mesmo depois de policiais militares aconselharem a parar”.

– O disparo que matou Katrina

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Delegado acusado de matar menina pede ordem contra mãe da vítima

O delegado fez quatro disparos de arma de fogo, em via pública e local de aglomeração de pessoas, na 46ª Festa do Peão de Promissão. O quarto atingiu a região da fúrcula esternal (região cervical pouco abaixo do pescoço).

– “Passou do lado”

Edvaldo Gimenes, que acabou detido no local, diz que Vinícius Martinez “passou do lado da Katrina” já caída no chão. A sentença só aborda a proximidade durante os disparos, cita que Katrina estava no campo de visão do delegado, mas não analisa a conduta após os tiros.

– Desqualificou tentativa de homicídio contra Edvaldo

“O réu interrompeu sua conduta por vontade própria.”
Segundo o juiz, como o delegado poderia ter prosseguido na investida em disparos contra o réu e, inclusive, tinha mais munição, não o fez.

Fim do sigilo: veja detalhes da sentença contra delegado que matou menina

– Consumo de álcool

O juiz considerou controversa a discussão sobre consumo de álcool pelo delegado. Vinícius Martinez negou.

Policiais e seguranças citam o delegado com uma lata, alguns depoimentos citam especificamente cerveja e um deles cita a marca.

O juiz considerou impossibilidade de concluir se era cerveja e tratou um depoimento como ‘confuso’ e que ‘embaralha informações”.