Marília

Após 17 anos, STJ anula processo polêmico contra procuradores de Marília

Após 17 anos, STJ anula processo polêmico contra procuradores de Marília Após 17 anos, STJ anula processo polêmico contra procuradores de Marília Após 17 anos, STJ anula processo polêmico contra procuradores de Marília Após 17 anos, STJ anula processo polêmico contra procuradores de Marília
Após 17 anos, STJ anula processo polêmico contra procuradores de Marília

A primeira turma de Direito Público do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu anular 17 anos de trabalho e reiniciar a partir da primeira instância um dos casos mais polêmicos do judiciário nos anos 2000 e que envolve dois procuradores de justiça de Marília.

Arthur Pagliusi Gonzaga, que chegou a integrar o órgão máximo do Ministério Público no Estado, e Roberto da Freiria Estevão, procurador e professor de direito, podem ver voltar à estaca zero um caso que já se arrasta desde 2000, provocou duas sentenças de condenação nos primeiros julgamentos e nenhuma punição ou decisão sobre o mérito das acusações nos recursos.

Os dois foram acusados de vazar informações de uma prova da segunda fase de um concurso para promotores de Justiça no Estado. Pagliusi presidia a banca que organizou o concurso. Freiria era professor de um curso preparatório para as provas, criado na Fundação Eurípides Soares da Rocha.

A decisão do STJ foi tomada em votação por 4 a 1 no julgamento apresentado por Freiria. O Tribunal acolheu um parecer do Ministério Público Federal baseado em questões técnicas, sem nenhum vínculo com as acusações.

Apesar de a Lei Orgânica do MP prever que só o Tribunal de Justiça pode afastar procuradores, volume de decisões judiciais recentes estabeleceu a nova jurisprudência que considera atribuição do juiz de 1ª instância tratar de ações de improbidade contra autoridades municipais e mesmo estaduais, como promotores.

A Procuradoria da República e o STJ seguiram esta tendência e sem decisão sobre o mérito das acusações indicaram que o processo deve ser reiniciado do zero. A decisão contraria inclusive o pedido da defesa do procurador Roberto da Freiria.

“Há 17 anos ele vem sangrando e aguardando julgamento de mérito porque não houve crime e nem ato de improbidade do Dr Roberto da Freiria Estevão”, disse o advogado do procurador, Benedito Cerezzo Pereira, que é de Marília, foi colega de Freiria como professor e hoje atua em Brasília e na USP de Ribeirão Preto.

Cerezzo afirmou que ainda estuda eventuais medidas de recurso contra a decisão. Ele pode protocolar embargos de declaração, com pedido para que o STJ esclareça pontos da decisão, ou ainda tentar eventual medida no STF (Supremo Tribunal Federal).

“Mas vamos aguardar a publicação da decisão e analisar. Pode ser que um recurso seja só mais perda de tempo e não interessa. O professor Freiria quer ser julgado e provar que não cometeu qualquer ilícito. Há 17 anos tentamos isso”, disse o advogado.

A defesa argumenta que nenhum dos dois participou da elaboração das provas e diz que o vazamento teria ocorrido em uma quinta-feira mas a banca do concurso informou na Justiça que as questões só foram liberadas no domingo, poucas horas antes da prova.

Os dois responderam a dois processos: um criminal e um civil, acusados de improbidade administrativa. O Tribunal de Justiça condenou os procuradores nos dois casos. Mas nenhuma pena foi efetivada.

O processo penal foi encerrado por prescrição decretada pela justiça. É caso em que o julgamento supera limite de tempo permitido para que o Judiciário puna os acusados, independente de responsabilidade ou não.

Cerezzo diz que Freiria recorreu contra a prescrição. “O Dr Freiria queria julgamento do mérito, queria a decisão de que é inocente. Nos dois casos ele vem tentando há 17 anos provar que é inocente. Nos dois casos ele quer o julgamento do mérito com sua inocência.”

A ação de improbidade foi julgada pelo TJ em 2009 e estabeleceu como penas o cancelamento do direito à aposentadoria para Arthur Pagliusi e a aposentadoria compulsória, com vencimentos parciais, para o professor Freiria.

Mas como em toda condenação civil, a punição só pode ser efetivada com o fim do processo, que seguiu em recursos. Pagliusi, que aposentou-se pouco depois do escândalo, mantém até hoje seus vencimentos, e Freiria seguiu normalmente a carreira e aposentou-se, com vencimentos integrais, como procurador.

“Imagine-se aí mais 17 anos. O que é um total absurdo e uma condenação para o professor Roberto. Inexiste por parte dele conduta irregular, quiçá crime ou ilícito por improbidade”, diz o advogado Benedito Cerezzo.