Marília

Aposentado de Marília revê família na Paraíba pela internet após 60 anos; assista

Aposentado de Marília revê família na Paraíba pela internet após 60 anos; assista

Há quase 60 anos, um adolescente de Frei Martinho, no interior da Paraíba, na divisa com Rio Grande do Norte, deixou a cidade em um caminhão sem avisar a família. Nesta sexta-feira, dia 15, Francisco Cícero da Silva, 72 anos, morador em Marília há quase 50 anos, reencontrou irmãs e conheceu e familiares pela internet.

A história tem relatos de coragem, conquistas, cenários e personagens históricos do interior da Paraíba e uma saudade de décadas, que virou vontade de viajar para o reencontro pessoal. Veja no final da matéria vídeo com momentos da chamada.

Paraíba, como é conhecido, mora na zona sul, próximo ao Complexo de Trânsito. Casado, pai de três filhas e avô de cinco netos, montou um lava carros na casa para melhorar a renda.

“Aposentei por idade, só com um salário mínimo, perdi muitos documentos de trabalho. Todos que trabalhavam comigo na mesma coisa ganham mais.”

O encontro foi promovido por um amigo, o vendedor Luiz Flávio Arruda, 40, que desde criança, na década de 80, ouvia impressionado a história do vizinho. Hoje, casado, mora na zona Leste da cidade e decidiu fazer buscas pela internet para achar a família.

Encontrou um radialista e político da cidade, Chiquinho Dantas, e a partir dele os familiares de Francisco. Hoje à tarde usou o celular para chamadas de vídeo que apresentaram os familiares, lembraram momentos e passaram informações, uma delas triste: a morte de mãe de Francisco, dona Maria, há cinco anos.

Paraíba descobriu também que era sonho dela, assim como dele, um reencontro, que não foi possível. Mas conheceu primos, sobrinhos, foi atualizado sobre a vida de quatro irmãos e a modernização da cidade.

Mãe de Francisco, Dona Maria, com a irmã, Luzia, em Frei Martinho: sem despedida e décadas de saudade


Quando decidiu conhecer o mundo, Francisco tinha pouco tempo de escola e muito de trabalho para a idade: lavoura, rebanhos e minério. Diz que foi com a descoberta de uma pedra de berilo, um minério quimicamente parecido com a Esmeralda, que ganhou dinheiro usado na viagem.

Deixou uma família pobre, com história de luta na região. A avó, Rita Apreciado, é citada em um livro de histórias escrito pelo professor Cloacir Gomes Dantas, como a mulher que durante o dia ou à noite abrir uma porteira na estrada de terra para veículos – especialmente caminhões e vendedores viajantes – na estrada em Frei Martinho e Currais Novos, já no Rio Grande do Norte.

A casa ficava próxima a um açude, é retratada em quadro  que está no livro, e a estrada segue muito parecida, com a Serra de Sussuarana ao fundo, açudes ao lado. O trajeto de 37km entre as duas cidades, ainda é feito em estrada de terra. O asfalto na pista é uma reivindicação histórica de moradores.

Estrada em que a avó de Francisco, Dona Rita, trabaljava abrindo porteira para caminhões e viajantes segue sem asfalto


Francisco chegou a Minas, onde trabalhou em fazendas até conseguir emprego em um posto de combustíveis. “Queria pilotar caminhão, não sabia ler e escrever, até hoje tenho dificuldade para assinar”, diz Francisco.

Mudou para São Paulo, conheceu trabalhadores de Marília e a convite deles veio para a cidade de trem. Foi trabalhar la lavoura na região da fazenda Cascata. “Pessoal muito bom, me deu casa, meu salário, comida. Mas eu não queria mais mato, queria viver em cidade.”

Conseguiu um emprego no posto de combustíveis da avenida Sampaio Vidal, ao lado dos Correios, hoje demolido. Passou por várias outras empresas do setor, mexeu cada vez mais com caminhões, tirou habilitação mas nunca trabalhou com isso. “Dirijo qualquer máquina.”

Foi em um posto na avenida Castro Alves que conheceu a esposa, Francisca, que encontrava todos os dias quando ela ia trabalhar. “A mãe dela não gostava de mim mas estava determinado para sermos nós dois. Ela mudou para São Caetano, eu fui atrás dela.”

Conta que a esposa sempre foi muito bonita, “com um cabelão”, e que teve outras namoradas antes de começar seu relacionamento com ela, mas não conseguia esquecer a moça, moradora do bairro São Miguel, “uma rua que ainda tem casinhas de madeira”.

Francisco com a esposa, filhas e alguns dos netos; família formada em Marília

Tiveram três filhas – Patrícia, casada e mãe de um casal de filhos, que mora com os pais, Kátia, mãe de duas meninas que mora na zona sul, e Graziela, mãe da falante e risonha Gabriela, que mora no Jardim Califórnia.

Francisco diz que nunca teve problemas graves de saúde, não vai médicos, não sabe fazer as chamadas por celular e ficou comovido com o apoio do vizinho.

E aos 72 anos tem sonho novo. Quer viajar de avião, “nunca nem entrei em um”, e ir conhecer a família, a 2.800km de distância. Assista abaixo ao vídeo com momentos da chamada após 60 anos.

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