'Janela para o passado'

Descoberta do crocodilo que deu o nome de Marília a fóssil completa 30 anos

Descoberta do crocodilo que deu o nome de Marília a fóssil completa 30 anos

Marília - A descoberta que colocou o nome de Marília nos registros mundiais de paleontologia completa 30 anos: os fósseis do Mariliasuchus.

É um marco de julho de 1995, quando a pesquisa de William Nava revelou o primeiro registro desta espécie de crocodilo do tempo dos dinossauros.

Nava, que hoje dirige o Museu de Paleontologia da cidade, já era responsável por descobertas que transformaram dinossauros em símbolo de Marília.

Fósseis pequenos, ‘intrigantes’

Descoberta do crocodilo que deu o nome de Marília a fóssil completa 30 anos
Nava durante escavação na Estrada Velha: ‘janela para o passado’

Encontrou os fósseis junto ao vale do rio do Peixe, ponto que virou o Sítio Paleontológico da Estrada Velha. Percebeu pequenos ‘e intrigantes’ ossos.

“Antes disso encontrei, em outros pontos da cidade, ossos fossilizados, mas grandes e que apontavam para dinossauros”, explica.

Os fósseis, semelhantes em tamanho a ossos de galinha e pombos revelaram também pequenos dentes.

Eram ossos de um grupo extinto entre 70 milhões e 80 milhões de anos atrás. Vestígios, inéditos, de uma espécie de hábitos onívoros, em virtude de sua dentição “diferenciada”.

Novidade em registros e hábitos

“Uma novidade entre os crocodilos fósseis da conhecida Bacia Bauru, grupo de sedimentos de idade Cretácea. A pesquisa indicou animais com até 1,20m de comprimento, mantinham hábitos terrestres e dieta que poderia incluir carnes e vegetais.

Os dentes permitiam, inclusive, escavar o solo em busca de moluscos ou raízes, devido projeção da dentição frontal, semelhante a suínos.

Em meados de 1996 Nava descobre o primeiro crânio articulado a um esqueleto parcial. Fóssil de um crocodilo juvenil e que é serviu como base para a descrição da espécie.

Os fósseis ganharam, finalmente, o registro como Mariliasuchus amarali, com nome de Marília e do pesquisador Sérgio Estanislau do Amaral. O registro foi trabalho dos pesquisadores Carvalho & Bertini, em 1999, com reconhecimento, assim, também aa um geólogo e professor da USP.

Fez mais descobertas por anos e chegou, além disso, a uma ninhada de ovos – primeira no país – e coprólitos (excrementos fossilizados).

Nome de Marília sem fronteiras

“Acredito que escavei e coletei dezenas de esqueletos do Mariliasuchus, que a cidade compartilhou com pesquisadores. Assim, chegaram a universidades e museus.”

A lista inclui Unesp em Rio Claro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu de Zoologia da USP, e Universidade de Brasília.

“Uma riqueza de fósseis que ajuda a ampliar o conhecimento sobre a espécie e, além disso, ambientes que haviam por aqui há milhões de anos.”

O trabalho levou a mais descobertas inéditas, como o Mariliabatrachus navai, espécie de sapo pré-histórico recentemente descrita.

Revelou ainda raros dentes de pequenos dinossauros carnívoros, potencialmente predadores do Mariliasuchus.

A Estrada Velha mantém em Marília o que Nava chama de “janela para o passado”. É, ainda, um dos principais sítios paleontológicos com fósseis de crocodilo de idade cretácea de todo o Brasil.