Marília

Filho de pipoqueiro, arquiteto que acusou racismo relata apoio e indignação: ‘escrachado

Filho de pipoqueiro, arquiteto que acusou racismo relata apoio e indignação: ‘escrachado

Pedro Leonardo Negreiros Bonani, 28 anos, que denunciou um empresário por racismo em Marília, disse nesta quarta-feira ao Giro Marília que foi a primeira vez em que passou por ataque tão direto em função de sua cor. Lembrou infância simples  na periferia e inserção em áreas profissionais tradicionalmente formada por negros, como arquiteto e piloto de avião comercial.

Bonani acusa o empresário C.E.R. que comanda uma empresa de construções na cidade, de chamá-lo de macaco em conversa por mensagens depois de uma reclamação sobre a casa vendida ao arquiteto.

Filho de pipoqueiro – seu pai, Pedro Bonani, o Bozó, era um nome conhecido na cidade e faleceu em 2020 – o arquiteto disse que já havia enfrentado situações de racismo estrutural, mais veladas. “Isso a gente tenta curar todo dia. Mas nunca passei por isso. Foi direto, foi escrachado”, disse.

Pedro, o pai, pipoqueiro, e a tatuagem feita pelo arquiteto em homenagem após seu falecimento

A denúncia ganhou repercussão nesta quarta-feira com veículos de grande circulação, como portal G1, da Rede Globo, e ele aguarda convocação da polícia para entregar todos os registros do ataque, conversas anteriores e informações sobre o caso.

O boletim de ocorrência foi registrado no domingo. Até a manhã desta quarta-feira não havia recebido qualquer contato de unidade policial para investigação do caso.

“Liguei lá na terça, não souberam me dizer nada, mandaram ligar mais tarde hoje, vou fazer o contato e espero para meu depoimento”, disse ao Giro Marília.

O arquiteto relatou que recebe muito apoio e carinho em mensagens, especialmente de pessoas simples e negras.

“Pessoal vê nas redes sociais grandes obras em que atuo, mas eu tenho projeto na Vila Barros, no Azaleias. Eu nasci no Azaleias, muita gente me conhece, muita gente da mesma cor que se sentiu atacada”, disse.

Disse ainda que cursou arquitetura com recursos do Fies e fez o curso de piloto com muito apoio do pai. “Ele tirava dinheiro direto do carrinho para me dar e falar: vai, faz esse curso”, afirmou.

Além do apoio, a denúncia provocou outros efeitos. Uma pessoa em uma picape esteve na casa do arquiteto e disse que foi enviada pela construtora para vistoria do imóvel e análise das obras necessárias.

“Já fizeram outras duas vistorias, mas não avançou. Eu vejo que as pessoas que vieram, os pedreiros, os profissionais vêm com boa vontade, mas são dois anos sem solução”, afirmou.