A apuração do rumoroso caso da carteirada no trânsito de Marília terá nesta segunda-feira um dia de muita movimentação política e uso eleitoral em todos os lados com um jogo de interesses que passam longe de buscar mudança de posturas e uma apuração transparente e séria das condutas envolvidas.
A denúncia contra a vereadora Sílvia Daniela D’Avila Alves envolve questões legais e de conduta. A Câmara de Marília vota nesta segunda-feira um pedido de formação de comissão processante com possibilidade de cassação do mandato.
Foi ampliada com a inclusão de uma acusação contra o prefeito Daniel Alonso, em uma situação de possíveis irregularidades mas sem vínculo direto com a carteirada.
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Daniela cometeu ato indecoroso ao telefonar para a comandante da PM com pedido para liberar seu carro? Usou a função para isso? A comandante Márcia Cristal teria atendido algum cidadão comum à 1h para liberar um veículo?
Há também questões técnicas sobre a atuação do policial e dos direitos e formas de qualquer cidadão reagir nestas situações. O pedido da vereadora tinha amparo legal? As justificativas para a apreensão do carro estavam corretas?
A vereadora deveria ter deixado que o carro fosse apreendido, com todos os danos decorrentes para buscar nos dias seguintes amparo judicial e até uma eventual representação contra o policial, como seria a solução para cidadãos sem cargos políticos?
O jogo eleitoral cresce pelos desvios e por toda a situação legal do caso. Mesmo que seja aberto um processo de cassação, há poucas possibilidades de que ele seja resolvido antes do final do mandato. O caso seria assim apenas uma grande novidade no quadro eleitoral, em plena campanha.
A influência política foi ampliada inclusão do prefeito Daniel Alonso na denúncia contra a vereadora.
Uma contaminação que tirou do debate a análise técnica do caso, as possíveis medidas de punição e as eventuais mudanças para contornar novos casos.
Embora a denúncia contra Daniel trate de acusações que podem ser investigadas, é uma situação que não tem vínculo direto com o caso da carteirada. É uma eventual irregularidade na promoção da vereadora, que é professora na rede municipal, para a função de assistente de direção em escola.
Redes sociais recebem várias mensagens críticas contra essa denúncia, que envolvem teorias sobre uso eleitoral, questionam a credibilidade do denunciante – um advogado de São Paulo – e as influências que teriam feito o denunciante sem qualquer ligação na cidade aparecer com os pedidos. Um debate que esvazia o caso em si.
No lado oposto, adversários políticos do prefeito usam o caso em discursos com pedidos de cassação e outras medidas com discurso de valorização da polícia e de um novo modelo de política. Além de usar modelos muito velhos de debate também desviam o foco.
A carteirada caminha para virar uma influência eleitoreira maior que uma análise de condutas públicas, serviços, legalidade e medidas para evitar novos abusos. Perdem os envolvidos e perde a coletividade.