Marília

Nasci de novo – Paciente deixa UTI da Covid em Marília com gratidão e fé

Nasci de novo – Paciente deixa UTI da Covid em Marília com gratidão e fé

Auxiliar de enfermagem por 30 anos, 20 deles na UTI do Hospital das Clínicas, Tony Souza, 56 anos, deixou nesta segunda-feira a Santa Casa de Marília após dias de terapia intensiva em um caso de coronavírus e comemora: “nasci de novo, tenho duas datas para celebrar nascimento”.

Diz que todo o sistema de saúde funcionou bem: unidade de saúde, Samu, UPA e UTI da Santa Casa. Acompanhou evolução de internações e preocupação com a estrutura. “A UTI é muito bem equipada. O atendimento ajudou muito, a fisioterapia foi muito importante. Mas é preciso entender que não há UTI para todo mundo, as vagas são limitadas. É preciso prevenir”

Também faz manifestação de fé. Diz que o emocional abala muito, “vai embora” e preciso manter equilíbrio.

“Você precisa manter a cabeça boa, bons pensamentos, muito fé. Disse ao médico: ‘o senhor acredita em milagres? Eu acredito: a estrutura da saúde associada à minha fé me salvou’.”

Tony acredita que tenha contraído o vírus em contato com uma amiga. “Ela fez uma visita, tudo muito controlado, máscaras, sem abraços. Alguns dias depois muitos na família testaram positivo. Paguei um exame, deu negativo, fiquei tranquilo.”

Os primeiros sintomas foram dor de cabeça, garganta ardendo, tosse seca. Evoluíram para cansaço excessivo com mínimos esforços e febre. Até sentir dor e dificuldade ao respirar. “É horrível, você puxa o ar e não vêm. Pensei: agora eu fui.”

Procurou atendimento médico na unidade de saúde do bairro Castelo Branco. “Andei alguns metros, senti muito cansaço, falta de ar. Fui atendido na entrada, a equipe pediu para eu entrar eu disse: vocês não estão entendendo, não consigo respirar”.

O Samu foi chamado e ele foi levado para a UPA da zona norte. Recebeu antibiótico, oxigênio e apresentou melhora. Ouviu que seria levado para a Santa Casa.

Segundo Tony , na internação foi identificado grande comprometimento da capacidade do pulmão. Ouviu a equipe questionar se seria caso de respirador. Não usou e durante o tratamento recebeu combinação de antibióticos, corticoide e cloroquina, já suspensa pela equipe média.

“A pressão subiu, a diabetes descontrolou, batimento cardíaco acelerou muito. Eu trabalhei em UTI, sabia tudo o que estavam fazendo. Pediram para eu dormir. A primeira noite foi crítica, não dormi. Ficava pensando: se for intubado, quando vou acordar? Passa uma história pela sua cabeça.”

A divulgação da alta e a vitória sobre o Covid rendem dezenas de mensagens em redes sociais. Coordenador em um terrero de candomblé, Tony recebe muita procura por orientação espiritual, mas o espaço está fechado desde fevereiro. Não deve reabrir neste ano, a menos que haja avanços sobre a vacina.

Tony defende o distanciamento social e pede que as pessoas adotem todas as regras de prevenção. “Não abrace, não dê a mão, não saia de casa sem precisar e use a máscara. Há muitas pessoas que precisam trabalhar? Não pode parar o país? Trabalhem. Mas pelo amor de Deus, sigam as orientações de prevenção, se cuidem. Não é uma gripezinha.”