Para Josefa, que encorajou-me repetir estas histórias, ao lado de nossos filhos:
João
Terto
Larissa
Carmen
Osório
e
Pedrinho (Pedro Pipoca Nariz de Taboca)
..."que encostarão suas canoas nos Portos Novos do Tempo"
Porto Calendário, Osório Alves de Castro
Marília - No sábado (28) parou de bater em São Paulo o coração de Terto Alves de Castro, o terceiro nome nas homenagens acima.
Estava na dedicatória de Osório Alves de Castro, seu pai, meu avô, na primeira edição de Porto Calendário, livro que, aliás, ganhou o prêmio Jabuti em 1962. Terto era um menino quando Osório começou a escrever e, depois, advogado, marido, pai e militante quando veio o prêmio.
Segundo filho do Osório, foi o último da lista a falecer e levar histórias da família nas casas da rua Amazonas e XV de Novembro, e de uma longa lista de talentos que integrou.
Saiu da cidade para cursar advocacia, fazer família e, além disso, carregar os ideais de um mundo melhor. Cumpriu sua missão, o mundo fica pior sem Terto.
Terto, irmãos, filhos e as canoas
Ainda que conversássemos pouco, cada conversa valia – a última, em 7 de março teve risos, alguma preocupação com saúde e boas doses de emoção.
Conversa que terminou como deveria: com a percepção de que a gente deveria conversar mais, o que não vai mais acontecer. Uma incapacidade que vai provocar papos com lembranças e conjecturas, o que já ocorre com minha mãe, Carmen, e os tios todos na lista de Osório.
Terto vai com o símbolo de ser o último filho do escritor a partir, mas é maior – e mais simbólico – que isso. Vai como um advogado lúcido, culto, que venceu dores e venceu uma ditadura contra a qual sempre se manifestou, além das batalhas trabalhistas.
Venceu desafios como pai e avô, enfrentou a perda de Gilda, esposa e mãe dos cinco filhos, e venceu a pandemia. Sofria nos últimos meses com a incapacidade do mundo melhorar mesmo após a Covid.
A lucidez que insistiu em acompanhá-lo fazia sofrer com guerras, preconceitos e exclusões. Seguiu com as dores, um humor fino e acervo de memórias e citações.
A despedida tem reações que vão de Marília, Bauru e Campinas à Bahia e envolvem de artistas, escritores e advogados a sindicalistas e professores.
Na despedida a Terto, é acolhedor pensar que podemos encostar canoas nos Portos Novos do Tempo tendo também suas lições com guia.