Nacional

Às vésperas da CPI, Ministério da Saúde acelerou entrega de testes "encalhados"

Às vésperas da CPI, Ministério da Saúde acelerou entrega de testes "encalhados"


source

Às vésperas da CPI da Covid-19, o Ministério da Saúde acelerou a distribuição de milhões de testes para detecção de Covid-19 que estavam “encalhados” em seu estoque em Guarulhos. Em documento enviado ao Ministério Público Federal (MPF) no início de abril, a pasta admitiu ter 4,3 milhões estocados e que poderia perder até 2,3 milhões deles a partir de maio por conta do prazo de validade. Nesta semana, levantamento feito pela pasta a pedido do GLOBO mostra que o total de testes armazenados é de apenas 29,8 mil.

A polêmica em torno dos testes de Covid-19 comprados pelo Ministério da Saúde começou no ano passado, quando revelou-se que o governo tinha pelo menos 6,8milhões de testes prestes a perder a validade e que ainda não haviam sido distribuídos e realizados. Em dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ampliou a validade dos lotes de testes que estavam prestes a vencer. A maior parte deles perderia a validade a partir de maio deste ano.

No dia 7 de abril,deste ano, o Ministério da Saúde enviou um ofício ao MPF informando que, apesar da ampliação do prazo de validade dos testes, ainda havia 4,3 milhões de kits em estoque e que, como a capacidade de processamento de exames nacional era de 1,5 milhão por mês, havia a possibilidade de perda de 2,3 milhões de kits em estoque por conta do prazo de validade.

“Ministério da Saúde possui no Almoxarifado Central aproximadamente 4,3 milhões de testes moleculares (RT-q PCR) com vencimento para maio de 2021, uma rede laboratorial com capacidade instalada de processamento de aproximadamente 1,5 milhão exames/mês e uma estimativa de perda por validade de pelo menos 2,3 milhões de testes moleculares (RT-qPCR)”, diz um trecho do ofício.

O ofício faz parte de um conjunto de documentos enviado pelo MPF à CPI da Covid no Senado. O GLOBO analisou os documentos e solicitou um levantamento ao Ministério da Saúde sobre a quantidade de kits referentes aos lotes que tiveram o prazo de validade ampliado que ainda estava em estoque. Segundo o Ministério da Saúde, a quantidade de exames armazenados caiu de 4,3 milhões em 7 de abril para 29,8 mil.

O aumento na velocidade da distribuição dos lotes ocorreu justamente no período posterior à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, que determinou a instalação da CPI da Covid no Senado, ocorrida no dia 9 de abril, e o começo dos trabalhos da comissão, no início de maio.

Você viu?

A política de testagem do Ministério da Saúde deverá ser um dos alvos da CPI da Covid e é investigada tanto pelo MPF quanto pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em relatórios de autoria sobre o assunto, a equipe técnica do tribunal constatou que a estratégia de testagem conduzida pela pasta tinha falhas e não era adequada à gravidade da epidemia.

Ao GLOBO, o Ministério da Saúde disse que os testes foram enviados à Rede Nacional de Laboratórios Públicos, laboratórios parceiros do Sistema Único de Saúde (SUS) e para a central de processamento de exames do Rio de Janeiro.

O GLOBO procurou o Ministério da Saúde e perguntou o que motivou o aumento na velocidade da distribuição dos testes que estavam “encalhados” nos armazéns do Ministério da Saúde e se há garantias de que os testes que já foram enviados aos laboratórios poderão ter tempo hábil para serem realizados antes da data de vencimento, mas a pasta ainda não se pronunciou.