Saúde

Pesquisa associa consumo de álcool e lesões cerebrais

Pesquisa associa consumo de álcool e lesões cerebrais
Pesquisa associa consumo de álcool e lesões cerebrais

São Paulo - Pesquisa que avalia efeitos de álcool no cérebro traz uma evidência mais forte da associação entre consumo, lesões cerebrais e piora cognitiva.

A pesquisa não comprova que o álcool causa esses problemas – relações de causalidade são complexas e demoradas de estabelecer. Mas a associação do álcool e danos que o estudo verificou é mais robusta porque as análises envolveram diretamente tecidos cerebrais após a morte.

Além disso, utilizou cérebros de brasileiros, e são raros os estudos em população de países de média e baixa renda – aquelas que, na prática, são as mais atingidas pela demência.

Os resultados apontaram associação à arteriolosclerose hialina e aos emaranhados neurofibrilares tanto para consumo moderado quanto o intenso (oito ou mais doses por semana).

A arteriosclerose hialina é uma condição de endurecimento de vasos sanguíneos que dificulta a irrigação cerebral. Pode danificar o cérebro e está ligada ao desenvolvimento de demência vascular. Já os emaranhados neurofibrilares são estruturas proteicas características da doença de Alzheimer.

Além disso, associação o consumo prévio intenso de álcool (ex-alcoolistas) à redução da massa cerebral e das capacidades cognitivas.

Lesões e perdas de cognição

Para não gerar distorções, o cálculo levou em conta a razão entre o peso do cérebro e a altura da pessoa. Aferiu capacidades cognitivas por questionário com familiares ou pessoas próximas, capaz de indicar se o paciente apresentava declínio cognitivo e sinais de demência.

Pesquisa associa consumo de álcool e lesões cerebrais
Publicação internacional: Pesquisa associa consumo de álcool e lesões cerebrais

O estudo rendeu publicação na Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, tendo como primeiro autor Alberto Justo. O pesquisador realizou pós-doutorado com supervisão de Claudia Suemoto na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

“O grande destaque é que os marcadores, principalmente a arterioesclerose hialina, já estão presentes mesmo em quem consome álcool moderadamente”, diz Justo.

Outro destaque, segundo ele, é verificar o declínio cognitivo em todos os grupos de bebedores. Tanto os que já tinham cessado antes da morte, quanto nos que ainda bebiam.

A pesquisa

As amostras analisadas vieram do Biobanco para Estudos do Envelhecimento da USP. Este banco coleta cérebros de pessoas que passaram por autópsias no Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SOV), da USP. Não envolve indivíduos que morreram de causas traumáticas, porque são casos de atendimento no Instituto Médico Legal (IML).

Inclui 1.781 pessoas com mais de 50 anos (idade média de 75 anos) no momento da morte, cujos parentes mais próximos tiveram contato no mínimo semanal com o falecido durante os seis meses anteriores ao óbito.