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Relembre como foram os 10 dias de julgamento do caso da boate Kiss

Relembre como foram os 10 dias de julgamento do caso da boate Kiss


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Em dez dias, o júri do caso que ficou marcado como “tragédia de Santa Maria” teve momentos marcantes, com choro de sobreviventes, resignação de réus à condenação e a rememoração do incêndio que deixou 242 mortos e 636 feridos em janeiro de 2013.

Foram condenados, nesta sexta, os ex-sócios Elissandro Sphor e Mauro Londeiro Hoffmann; Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira; Luciano Bonilha, auxiliar da banda Gurizada Fandangueira Marcelo dos Santos .

Carta psicografada

Na última quinta-feira, reta final do julgamento, a advogada Tatiana Borsa — que defende do músico Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira que segurava o artefato pirotécnico na boate Kiss — causou incômodo aos familiares das vítimas e indignação nas redes sociais.

Borsa exibiu um vídeo de uma carta supostamente psicografada por uma das vítimas do incêndio. A mensagem sugeria que os réus não tiveram “qualquer intenção quanto à tragédia acontecida” e classificava o ocorrido como uma “fatalidade”. Incomodados, alguns familiares presentes no julgamento deixaram o local no momento. Nesta sexta-feira, ela se desculpou aos pais pelo ato.

Réu diz que aceitaria condenação para “tirar a dor dos pais” de vítimas Na quinta, um dos réus, Luciano Bonilha, afirmou que se considera inocente, mas que está pronto para ser condenado “se for para tirar a dor dos pais” das vítimas. Ele era auxiliar da banda Gurizada Fandangueira e acionou o artefato pirotécnico que iniciou o fogo na boate.

“O coração dos pais não está entendendo a minha dor, mas eu não tenho como entender a dor deles. Se eu tivesse morrido lá, hoje a minha mãe estaria sentada junto com eles. Mesmo eu sabendo que sou inocente, que sou uma vítima, se (for) para tirar a dor dos pais, eu estou pronto, me condenem”, declarou.

Mesma posição teve Elissando Spohr, o Kiko, primeiro dos quatro réus a depor, na quarta-feira. Um dos sócios da casa noturna, ele entrou em desespero e começou a chorar e disse não aguentar mais a pressão do caso.

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“Querem me prender, me prendam! Tô cansado, cara. Perdi um monte de amigos. Acha que eu ia fazer uma coisa dessas? Não é fingimento, eu não aguento mais. Vocês acham que é fácil. Não é fácil. Eu não consegui pedir desculpa”, afirmou, virando-se para o público.

Sobreviventes vão às lagrimas em depoimento

No período de depoimentos das testemunhas, sobreviventes lembraram o dia da tragédia e como escaparam do incêndio. Maike Adriel dos Santos contou que perdeu a amiga naquela noite, desmaiou durante o incêndio e foi salvo por outras pessoas. Jéssica Rosado, por sua vez, perdeu o irmão na tragédia, mas também conseguiu se salvar.

Lucas Cauduro Peranzoni chorou ao lembrar que não conseguiu ajudar outras pessoas porque desmaiou com a fumaça e foi pisoteado pela multidão tentando sair do local. Delvani Rosso chegou a se levantar a mostrar as queimaduras do incêndio, e Kelen Ferreira mostrou a prótese que usa, por ter tido a perna amputada em razão dos ferimentos.

“Correr eu não consigo mais, né? A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte”, disse Kelen.

Também foram ouvidas testemunhas que não estavam no local durante o incêndio. O gerente da loja onde foram comprados os artefatos pirotécnicos que causaram o incêndio na boate, Daniel Rodrigues da Silva, afirmou que os objetos usados no dia da tragédia não podiam ser usados em locais fechados.

O ex-técnico de som da banda, Venâncio Anschau, disse que o público não soube inicialmente do incêndio porque desligou o som dos microfones. Ele chorou ao dizer que errou ao cortar o áudio.

Protesto de familiares

Prefeito de Santa Maria à época da tragédia, Cesar Schirmer enfrentou um protesto simbólico, quando os familiares das vítimas abandonaram a sala durante seu depoimento. Ele disse que a prefeitura multou a boate sete vezes por falta de documentos. Os familiares dizem que Schirmer nunca pediu desculpas pela tragédia.