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Salvar mais vidas- pesquisadora faz apelo por vacinas para pessoas com deficiência e comorbidades

Vacinação de pessoas com deficiência começou em janeiro na Holanda. Na foto, a primeira vacinada: Sanne. – Imagem: Reprodução.
Vacinação de pessoas com deficiência começou em janeiro na Holanda. Na foto, a primeira vacinada: Sanne. – Imagem: Reprodução.

A pesquisadora Cássia Navas Alves de Castro, professora Instituto de Artes/UNICAMP, divulgou nesta segunda-feira um apelo na internet para que o programa nacional de imunização inclua entre os grupos prioritários pessoas com deficiência e condições permanentes que podem agregar agravantes para casos de Covid-19.

O apelo inclui informações sobre países que já iniciaram programas de imunização para esta faixa do público. Lembra que algumas condições são acompanhadas por comorbidades, outros quadros clínicos que podem agravar o impacto da doença.

O documento é replicado por diferentes profissionais e grupos de mensagens como um alerta aos serviços oficiais de Saúde.

Cássia Navas é neta do escritor e alfaiate Osório Alves de Castro, que passou maior parte da sua vida em Marília, onde escreveu e publicou o livro Porto Calendário, vencedor do prêmio Jabuti em 1961, e criou os seis filhos, incluindo o advogado Terto Alves de Castro, pai da pesquisadora.

Você pode compartilhar a mensagem original. Veja abaixo o texto:

Salvar mais vidas, um apelo

São Paulo, 8 de março de 2021

Neste momento sem precedentes em nosso pais, sinto na pele e acompanho a ansiedade das famílias de jovens e crianças cujas deficiências geram comorbidades.  Com duas irmãs médicas na linha de frente  (SUS e SAMU) e um pai com 84 anos, festejei a decisão de se vacinar os mais idosos e os profissionais da saúde. Foi um acerto que se impôs.

Mas grupos tão e talvez mais expostos e vulneráveis às consequências do coronavírus já deveriam ter sido incluídos nas primeiras fases da vacinação, como os jovens portadores da pouco notificada síndrome de Prader-Willi, um deles aqui ao meu lado, quando escrevo este apelo: milha filha.

Através de uma pesquisa recente, difundida no Fórum Econômico Mundial, ficamos sabendo que no Reino Unido grande parte das mortes por Covid-19 atingiram pessoas com algum tipo de deficiência.

Ainda que saibamos das diferenças entre doença e deficiência (esta tratando-se de uma condição e não de uma doença em si), não podemos ignorar que deficiências podem estar associadas a comorbidades, como a obesidade severa (fruto de questões neurológicas) e  os déficits cardíacos/pulmonares graves (fruto de problemas neuromusculares). Tal também acontece no âmbito de certas Doenças Raras e mesmo com a síndrome de Down.

Todos estes fatores impactaram (e impactarão) os números de mortes pela pandemia. No Brasil, estas pessoas contam mais que um milhão e todas continuam sem saber quando receberão a vacina. Pelo cronograma, sabemos somente que serão vacinadas depois dos que tem entre 60 e 64 anos.

E até lá? O que fazer além de acalmar o coração, trabalhar dobrado, pagar impostos, ter esperança, ficar em casa, usar duas máscaras, doar duas cestas básicas por mês para quem tem fome, cuidar do corpo e do espírito de nossos filhos com deficiência?

Isto tudo já não basta!

Com o intuito de mais fazer, segue este apelo para que mandatários, secretários e técnicos sejam informados sobre esta situação. E talvez, por estes argumentos convencidos, lançarem mão, a partir da autonomia de estados e prefeituras, de suas prerrogativas para buscar soluções para estas pessoas, num período que sabemos ser de escassez de vacinas.

Uma destas soluções? Tomo a liberdade de indicar, em conjunto com outros profissionais e famílias: seria a de interpolar estes grupos a outros já previstos nas primeiras etapas da vacinação.

Neste caso não se trata de uma providência a ser obtida por meio de  pressão/lobby por privilégios, posto seus motivos serem de absoluta natureza científica e humanitária.

Segue este apelo, com respeito, e pelo qual também aproveito pra agradecer aqueles que, em muitas trincheiras desta guerra (pois é, estamos numa espécie de guerra)  lutaram, lutam e lutarão, sem cessar e sem receio, pela vida de tantos, de todos.

Cássia Navas Alves de Castro: ensaista e pesquisadora, professora Instituto de Artes/UNICAMP e mãe da Clara Castro Arcieri