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"Vida para frente. Aqui não tem luto", disse Flordelis dias após morte de pastor

"Vida para frente. Aqui não tem luto", disse Flordelis dias após morte de pastor


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Em depoimento no júri desta terça-feira , Wagner Andrade Pimenta, o Misael, filho da pastora Flordelis dos Santos, disse que o irmão Flávio dos Santos confirmou para ele que atirou no pastor Anderson do Carmo, mas que estava arrependido de ter matado o padrasto. Misael contou ainda que a irmã Simone, Marcio Buba (amigo da família e motorista) e a sobrinha Rayane citaram abusos do pastor com as crianças da família. Segundo ele, Anderson era o “cabeça pensante” do casal. O depoimento de Misael, o terceiro do primeiro dia, durou cerca de 50 minutos.

“Dias após o crime, a minha mãe me cobrou apoio e disse para ela ter calma, que estava de luto ainda. Ela disse para eu deixar o luto, vida parra frente, que ‘aqui não tem luto não’.”

Ele é um dos quatro filhos de Flordelis que quebraram a “lei do silêncio” que havia na casa da ex-deputada federal e decidiram revelar a trama da morte do pastor . Em seu depoimento, Misael afirmou que o pastor Anderson não denunciou à polícia a descoberta de planos para matá-lo por receio de expor a família e Flordelis. Ele também comentou sobre a relação do casal dentro de casa.

“Ele (Anderson) tratava ela (Flordelis) muito bem como esposa e com respeito por tudo que eles conquistaram juntos. Ela como cantora, ele como pregador. Ele sabia da importância dele para ela. Ele que era o cabeça pensante”, destacou ele, que apontou a adoção como forma de angariar recursos. “Passavam a imagem de família grande, as crianças. Tanto que quando iam tirar fotografias, estava meu filho junto, acabava dando número.”

Misael e Daniel dos Santos de Souza foram os primeiros a procurar a polícia, no dia seguinte ao crime, para contar que a morte de Anderson já vinha sendo planejada dentro da própria família. Misael, que era vereador, apontou a mãe como “mentora intelectual” do crime em primeiro relato aos investigadores. Já Daniel chegou a dizer que o sofrimento da mãe e de alguns irmãos no enterro do pastor era um verdadeiro teatro. Ambos revelaram que a própria vítima já tinha conhecimento de que pessoas na casa estavam planejando a sua morte.

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Além deles dois, estão previstas mais 12 testemunhas no julgamento que teve início na tarde desta terça-feira, no plenário do Tribunal do Júri em Niterói, Região Metropolitana do Rio, totalizando 14 depoentes (três foram dispensadas do julgamento). Assim como Misael e Daniel, Roberta dos Santos e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan, são outros membros da família que decidiram contar à polícia detalhes da trama contra a vítima e acusaram a mãe, Flordelis, de envolvimento.

Também foram intimados dois delegados que atuaram no caso — Bárbara Lomba e Allan Duarte — e três investigadores e um perito legista que trabalharam na investigação. Foi chamado ainda Daniel Pereira Solter, motorista de Uber que teria acompanhado Flávio e Lucas até a favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, onde compraram a arma.

Durante o julgamento, primeiro são ouvidas as testemunhas de acusação e depois as de defesa. Por último, os réus são interrogados.

No julgamento, a grande expectativa é pelo novo depoimento de Flávio, já que no ano passado o filho de Flordelis voltou atrás em sua confissão, passando a negar ter cometido o crime. Na época, sua defesa era feita pelo advogado Anderson Rollemberg, contratado por Flordelis. Desde o mês passado, Rollemberg não atua mais na defesa de Flávio, que passou a ser assistido pela Defensoria Pública. Flordelis é acusada de ser mandante da morte de Anderson, mas o filho nunca vinculou a mãe ao crime. A ex-deputada ainda não tem data para ir a julgamento.

O interrogatório de Flávio, no entanto, não deve acontecer nesta terça, já que o julgamento deve se estender por até dois ou três dias em razão do grande número de testemunhas a serem ouvidos. Os réus só são interrogados após a oitiva de todas as testemunhas.