Colunista | Jéssica Machado dos Santos

Donata da Vogue e Paula do BBB 19 são exemplos clássicos de como o racismo ainda se perpetua no Brasil para aqueles que afirmam que não existe racismo neste país.

Donata é diretora da revista Vogue no Brasil, e no último final de semana comemorou seu aniversario de 50 anos com uma festa com o seguinte tema: Brasil Colonial. E seus convidados eram recepcionados e servidos por pessoas negras com vestimenta que remetia à época da escravidão.

Paula do BBB 19 desde o inicio do programa destila seu racismo, porém alega que é a opinião dela e não é racista. Bom, em alguns episódios do programa soltou as seguintes frases: “humor negro é você começar a pegar uma pessoa negra e fazer piadinha contra ela”, “pra mim cota é uma forma de racismo do Estado”, “eu sou negra, minha avó era morena” “cabelo ruim”, “achei que era mó faveladão, mas era branquinho, fez até intercâmbio”, entre outros absurdos.

Esses últimos acontecimentos chocaram uma parte da população, e sim uma parte, a branca da população, pois nós negros convivemos com essas ações todos os dias, e isso reflete no quão é importante que seja combatido o racismo em todos os espaços sociais, que seja falado todo dia, toda hora, minuto e segundo.

Infelizmente escuto muito que racismo é coisa de gente ignorante, mas não é, e afirmo isso com propriedade. Essas duas mulheres brancas são estudadas e sempre tiveram acesso a informação, ou seja, elas são racistas por essência e reflexo de uma povo que não superou o fim da escravidão, eles sentem falta de serem servidos, eles não aceitam que o negro ao longo do tempo mudou um pouco a sua condição, pouco pois, tristemente ainda ocupamos os piores índices socio econômicos do país : somos a maioria desempregada, com condição financeira mais baixa, somos os quais morremos pelas mãos do Estado todos os dias, somos poucos nas universidades, nas escolas ...

Faz 130 anos que a escravidão foi abolida no Brasil, sendo que o país foi o ultimo a abolir e isso só aconteceu por pressão da Inglaterra, isto quer dizer que a elite brasileira nunca desejou o fim da escravidão, eles foram obrigados. Mas quando a escravidão é abolida no Brasil em 1888, os escravos negros são libertados, porém sem nenhuma garantia de direitos, são expulsos das fazendas que eram escravizados e sem lugar para morar, os escravos libertos ficam em uma situação de pobreza total: sem trabalho, sem moradia, sem alimento.

Homens negros e mulheres negras que contribuíram para o desenvolvimento do território brasileiro são jogados às margens da sociedade, e assim, o governo brasileiro dá início (apoio) à imigração de europeus e asiáticos já que as fazendas demandavam de mão de obra e como a escravidão estava abolida,  eles queriam que os negros fossem dizimado do país, e iniciou o processo de branqueamento da população que se dá com a vinda desses imigrantes europeus com o governo brasileiro garantindo moradia e trabalho.

Por isso vemos hoje pessoas transformando suas fazendas em museus para uma experiência escravocrata, ou criam um restaurante com o nome de Senzala, estampam roupas com imagens da época da escravidão e fazem até festa com tema da escravidão. Não respeitam as nossas dores. Não entendem que a escravidão foi um dos piores momentos da História mundial.

Fica a reflexão: o Brasil ainda é um país racista e se encobre da ideia de democracia racial, do somos todos iguais e assim se segue um país com grande desigualdade racial e social “que tem sido considerado ora como elemento de mascaramento das desigualdades socioeconômicas entre negros e brancos, ora como expressão do ideário da mistura e do não-racialismo da sociedade brasileira” (Maria Valéria Barbosa).


Giro Marília -Jéssica Machado dos Santos
Jéssica Machado dos Santos
Cientista Social formada pela Unesp de Marília, ativista e coordenadora no coletivo Negras Ginga - https://www.facebook.com/NegrasGinga/

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