Colunista | UNIMAR EM AÇÃO

Cada ciência tem situações específicas que definem sua realidade. A comunicação tem sobrevivido a duras penas à tendência de ser vista como um objeto do fazer prático, numa crise epistemológica do que seria sua classificação enquanto ciência e de quais seriam seus objetos de estudo.

É perceptível, principalmente em cidades do interior, a visão de que “comunicação qualquer um faz”, principalmente pelo acesso a uma tecnologia cada vez mais intuitiva, disponível, barata e de alta qualidade. 

Celulares de última geração que fazem fotos maravilhosas, ainda mais sabendo manejar todos os filtros disponíveis e ferramentas de edição. Softwares de edição de vídeos muito intuitivos e práticos, que permitem qualquer um fazer em minutos uma composição audiovisual. Ferramentas como o Canvas, que lhe permite escolher um layout pré-pronto e diagramá-lo conforme sua necessidade, produzindo desde convites e certificados a banners e cartazes. Câmeras fotográficas super modernas, drones e gruas a preços acessíveis e que fazem toda a diferença no resultado final. Mídias sociais com excelente usabilidade e que permitem que qualquer pessoa curiosa e perspicaz gerencie diversas contas no Instagram, Youtube, Facebook etc.

O fato a se considerar é que não só de tecnologia e de estética vivem a comunicação e os comunicadores. Tudo isso é apenas uma parte do trabalho de comunicação, principalmente se olharmos para a Comunicação pelo viés da corrente funcionalista, em que o foco dos meios está nos efeitos que provocam.

Nesta corrente, a sociedade é vista como um grande organismo, em que os meios de comunicação cumprem papeis importantes como transmissão cultural, vigilância, entretenimento, integração, atribuição de status e, inclusive, aponta-se uma disfunção, um problema identificado pelo uso dos meios, seu efeito narcotizante. Seria esta disfunção aquela em que a sociedade está tão entorpecida nos fluxos comunicacionais que acredita participar ativamente da vida pública e de tudo o que é noticiado, quando, na verdade, ela está envolta em preocupações superficiais e que não promovem a criticidade sobre o que de fato está acontecendo fora dos meios?

Qualquer semelhança com a realidade não é apenas coincidência.

O profissional de comunicação deve, portanto, estar preparado para entender as dinâmicas sociais de maneira aprofundada, a fim de planejar suas mensagens fundamentado no conhecimento social, histórico, ético e filosófico; pois é certo que a comunicação interfere em todas essas esferas.

Não é à toa que os cursos de Bacharelado em Comunicação Social incluem em sua grade a preocupação com essas disciplinas fundantes, pois mais do que manejar ferramentas tecnológicas, estamos lidando com pessoas e temos muita influência para transformar suas vidas, positiva ou negativamente.

O professor Laan Mendes de Barros já disse, em um texto de 2008, que “estudar comunicação implica em trabalhar com as contradições da sociedade moderna, mediadas pelos fenômenos midiáticos” (BARROS, 2008, p.9). Por isso, precisamos respeitar o profissional de comunicação como alguém que estuda, analisa, pesquisa e considera as dinâmicas sociais, com preocupação ética e técnica, para elaborar suas mensagens de maneira assertiva, criativa e comprometida. Qualquer um pode dominar a arte de comunicar, mas comunicar profissionalmente exige muito mais do que tecnologia e beleza nas composições: é uma ciência social aplicada! Vale retomar, observar e respeitar sua complexidade.

Profa. Dra. Maria Alice Campagnoli Otre
Docente do curso de Publicidade e Propaganda – Universidade de Marília/UNIMAR


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Coluna destinada a promover a comunicação da universidade com a sociedade e para a divulgação das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Marília.

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