Você já viu uma planta definhando e pensou em desistir dela? Pois saiba que existe uma receita centenária, criada por viticultores franceses, que ainda hoje salva jardins e hortas inteiras: a calda bordalesa. Esse preparado simples e barato ganhou fama justamente por um motivo — ele funciona. E o melhor: você pode preparar em casa.
Como fazer calda bordalesa em casa com segurança
A calda bordalesa é uma mistura de sulfato de cobre e cal virgem diluída em água. Juntos, esses ingredientes formam um potente fungicida natural que combate oídio, ferrugem, míldio e manchas foliares. Para fazer em casa, você só precisa seguir proporções e cuidados específicos.
Ingredientes da receita tradicional:
- 20 g de sulfato de cobre (encontrado em casas agropecuárias)
- 20 g de cal virgem (ou hidróxido de cálcio)
- 1 litro de água potável
Modo de preparo:
- Dissolva o sulfato de cobre em 500 ml de água em um balde plástico.
- Em outro recipiente plástico, dissolva a cal virgem nos outros 500 ml de água.
- Misture lentamente a solução de cal à solução de cobre, sempre mexendo com uma colher de pau ou bastão plástico. Nunca use utensílios metálicos.
- A mistura deve ficar com coloração azul celeste e pH neutro a levemente alcalino (entre 7 e 8).
É fundamental usar luvas, máscara e óculos de proteção, especialmente durante o preparo. Embora natural, a calda bordalesa pode causar irritações se houver contato com pele ou olhos.
Como aplicar a calda bordalesa nas plantas
A calda bordalesa é um produto de ação preventiva. Ela deve ser aplicada antes que as doenças se instalem ou logo nos primeiros sinais de fungos. Não adianta esperar a planta estar tomada por manchas ou podridão para iniciar o tratamento.
Use um pulverizador manual para aplicar a calda em todas as partes da planta — folhas, caules e até o solo ao redor da base. O ideal é fazer isso nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde, evitando sol forte e vento.
A frequência da aplicação varia de acordo com o clima e a planta:
- Hortaliças e ervas: a cada 7 a 10 dias em épocas chuvosas.
- Frutíferas e ornamentais: a cada 15 dias ou após chuvas fortes.
Importante: não aplique durante a floração ou perto da colheita. Para plantas comestíveis, respeite o intervalo de segurança de 10 dias antes do consumo.
Em quais plantas a calda bordalesa pode ser usada
Essa calda é versátil e pode ser usada em praticamente qualquer tipo de planta, mas se destaca por sua eficácia em espécies mais sensíveis a fungos e doenças fúngicas. Veja alguns exemplos:
- Tomateiros: combate oídio e requeima.
- Videiras: usada desde sua criação para prevenir míldio.
- Rosas: eficaz contra ferrugem e manchas negras.
- Orquídeas: ajuda a controlar podridões de raiz e folhas.
- Citros e frutíferas tropicais: auxilia na prevenção de cancro e gomose.
A calda forma uma camada protetora nas folhas, impedindo que esporos de fungos se instalem. Ela também alcaliniza o pH da superfície foliar, dificultando a sobrevivência dos patógenos.
Vantagens e limitações da calda bordalesa
Um dos grandes trunfos da calda bordalesa é que ela não gera resistência nos fungos, ao contrário de muitos produtos sintéticos. Isso a torna ideal para cultivos orgânicos e sistemas agroecológicos.
Além disso, ela é:
- Econômica
- Fácil de preparar
- De amplo espectro de ação
- Aceita pela agricultura orgânica
Mas também tem limitações. O cobre, presente na fórmula, pode se acumular no solo com o uso excessivo. Por isso, seu uso deve ser moderado e pontual. Também não é recomendada para plantas jovens ou brotações novas, pois pode causar fitotoxicidade (queimaduras).
História e legado da calda bordalesa
A calda bordalesa foi desenvolvida no século XIX, na região de Bordeaux, na França, como uma resposta ao ataque devastador de fungos nas videiras. Curiosamente, seu uso começou quase por acaso: os viticultores aplicavam a mistura de cal e cobre nos parreirais não para proteger, mas para desencorajar ladrões, já que a substância deixava as uvas com gosto ruim. O efeito antifúngico foi percebido depois.
Desde então, ela foi adotada por agricultores em todo o mundo. No Brasil, pequenos produtores e jardineiros urbanos continuam recorrendo a essa receita, agora com mais conhecimento técnico e segurança.
Redescobrir soluções antigas como a calda bordalesa nos conecta com um saber que atravessa gerações. Em tempos de excessos químicos e impactos ambientais crescentes, essa receita centenária mostra que o natural — quando bem usado — ainda é um caminho potente. Às vezes, a cura para suas plantas está num balde azul-claro, misturado com história e simplicidade.