Durante meses, eu terminava o dia com uma queimação incômoda no peito, sensação de azia subindo pela garganta e aquela vontade de ficar sentado porque deitar parecia piorar tudo. Tentava tomar um chá, tomava água com limão (achando que ajudava), mas o incômodo só passava quando recorria a antiácidos. Até que percebi: o problema estava no meu próprio prato — ou melhor, no que eu escolhia para o jantar.
Muita gente associa o refluxo apenas ao excesso de alimentos gordurosos, mas nem imagina que o horário da refeição e a combinação errada de alimentos no fim do dia pode ser a principal causa do problema. Foi só depois de ajustar minha última refeição que o refluxo praticamente sumiu da minha vida — sem remédio, sem mistério.
O que é refluxo e por que piora à noite
O refluxo gastroesofágico acontece quando o conteúdo do estômago volta para o esôfago, causando queimação, azia, arrotos frequentes e até tosse seca. Isso ocorre porque o esfíncter esofágico inferior (uma válvula natural entre o esôfago e o estômago) se abre quando não deveria, permitindo esse retorno do ácido estomacal.
À noite, quando o corpo se deita, a gravidade deixa de ajudar e esse refluxo acontece com mais facilidade. Por isso, quem janta tarde, em grande quantidade ou escolhe alimentos muito pesados, tem mais chance de sofrer com o problema.
Meu jantar típico: o erro estava ali
Antes da mudança, meu jantar parecia inofensivo: sanduíches recheados com queijo e presunto, molhos prontos, suco de caixinha ou refrigerante e, por vezes, uma sobremesa. Simples, prático — e totalmente irritante para meu sistema digestivo.
O queijo derretido com gordura, o pão refinado, o refrigerante gaseificado e até o doce ao final da refeição criavam um combo ideal para o refluxo. Mas como eram alimentos “comuns”, eu nem desconfiava que aquele hábito estava me prejudicando tanto.
A virada: troquei 4 itens e tudo mudou
Foi por sugestão de uma amiga nutricionista que resolvi testar a troca dos alimentos à noite. Não fiz nenhuma dieta radical, só substituições estratégicas:
- Troquei o pão por uma base leve de vegetais ou raízes cozidas — como purê de mandioquinha ou abóbora, que são alcalinos e não fermentam.
- Substituí queijos e embutidos por fontes magras de proteína — como frango desfiado, ovos cozidos ou tofu grelhado.
- Eliminei líquidos durante a refeição — nada de suco ou refrigerante; agora só tomo água 30 minutos antes ou depois.
- Incluí alimentos calmantes e digestivos — como chás de erva-doce ou camomila antes de dormir e um punhado de sementes de abóbora tostadas.
O resultado foi quase imediato. Em menos de uma semana, percebi que dormia melhor, acordava sem aquela sensação de peso e o refluxo simplesmente deixou de ser uma preocupação constante.
Alimentos que mais pioram o refluxo à noite
- Tomate cru e molhos de tomate industrializados
- Queijos gordurosos e frituras
- Chocolates e sobremesas açucaradas
- Pão branco, massas com muito molho e farinha refinada
- Café e bebidas alcoólicas (inclusive vinho)
- Cebola crua, alho em excesso e condimentos prontos
- Refrigerantes, sucos cítricos e bebidas gaseificadas
Esses itens tendem a relaxar a válvula do esôfago ou estimular a produção de ácido gástrico. Por isso, devem ser evitados no jantar ou, se consumidos, que seja com muitas horas de antecedência ao horário de dormir.
Alimentos que ajudam a prevenir o refluxo
- Frutas não cítricas, como banana, mamão e melão
- Legumes cozidos, como cenoura, chuchu, abóbora
- Aveia e arroz integral
- Carnes magras grelhadas ou assadas
- Gengibre fresco em pequena quantidade
- Infusões calmantes (erva-doce, camomila, hortelã suave)
- Sementes e oleaginosas em pequenas porções
Esses alimentos tendem a ser menos agressivos ao estômago e ajudam no processo digestivo. Comer devagar, em porções moderadas, também é essencial.
O impacto de deitar logo após comer
Outro erro que cometi por muito tempo foi jantar e, minutos depois, me jogar no sofá ou ir direto para a cama. Isso favorece completamente o refluxo. A recomendação é esperar pelo menos 2 horas após a última refeição antes de deitar — e, se possível, elevar um pouco a cabeceira da cama ou dormir do lado esquerdo, o que facilita a digestão.
Refluxo não é só incômodo — é um alerta
Ignorar os sinais do corpo pode parecer normal na correria do dia a dia, mas o refluxo frequente é um sinal de que algo precisa ser revisto. Quando negligenciado, pode causar esofagite, laringite e até quadros mais graves no sistema digestivo.
Por isso, se você tem azia frequente à noite, sensação de garganta arranhando ao acordar, tosse seca ou rouquidão, considere olhar com atenção para o seu jantar. Às vezes, não é sobre remédio — é sobre mudar o prato.