Economia

CCR acumula falhas nos trens de SP, mas lidera concessões do governo

CCR acumula falhas nos trens de SP, mas lidera concessões do governo CCR acumula falhas nos trens de SP, mas lidera concessões do governo CCR acumula falhas nos trens de SP, mas lidera concessões do governo CCR acumula falhas nos trens de SP, mas lidera concessões do governo
CCR acumula falhas nos trens de SP, mas lidera concessões do governo


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Uma das principais vencedoras das recentes concessões de rodovias do país, ganhando inclusive a relicitação da Via Dutra, a CCR se arriscou em novos territórios para se tornar referência em operações de infraestrutura no Brasil. Ganhou o leilão de 15 aeroportos de 2021 e deve disputar Congonhas, em São Paulo, neste ano. Opera linhas de metrô em São Paulo e Bahia e barcas no Rio. Mas toda essa experiência não garantiu sucesso na gestão de trens metropolitanos na capital paulista.

Líder do consórcio Via Mobilidade, que assumiu em janeiro a operação das linhas 8 (Diamante) e 9 (Esmeralda) quer eram da estatal Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), vem enfrentando problemas no modal, complicando a vida dos passageiros. A linha 8 liga Itapevi com a estação Júlio Prestes, no Centro, com 24 estações. A linha 9 tem 11 estações, de Pinheiros a Jurubatuba.

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Seguidas falhas técnicas vêm causando atrasos e deixam os trens superlotados com frequência, especialmente pela manhã, horário de pico. Problemas nos cabos aéreos já interromperam o fornecimento de energia, obrigando os trens a circularem com velocidade reduzida e com intervalos de até 40 minutos. Em março, o Ministério Público de São Paulo abriu duas investigações, uma no âmbito do consumidor e outra sobre prejuízos ao patrimônio público. 

O promotor Silvio Marques, que está à frente das investigações sobre possíveis prejuízos ao patrimônio público, não fala em romper o contrato de concessão imediatamente. Mas não descarta entrar com uma ação na Justiça contra o consórcio para que essa decisão seja avaliada:

“A CCR tem expertise na operação de estradas, metrôs, mas claramente não tem experiência na operação de trens metropolitanos. Assumiram a concessão sem estar preparados. Vamos pedir indenizações aos usuários e ao Estado.”

Quebra-quebra

Em março, um trem da linha 8 ficou sem freios e colidiu com a barreira de proteção na estação Julio Prestes, ponto final da Diamante, no Centro. O acidente foi tratado como falha humana. Imagens em redes sociais mostraram um quebra-quebra na estação Grajaú, em maio. A revolta tinha relação com atrasos e a falta de informações, já que o aplicativo e o site da concessionária indicavam que as operações estavam normais.

“As linhas 8 e 9 andam caóticas, cheias de atrasos, enchendo mais ainda os trens em cada viagem. Fui da Vila Olímpia até a Cidade Jardim com a mochila pra fora do trem, segurando ela pela alça, de tão lotado”, escreveu o usuário Caio Rodrigues em uma rede social.

O promotor Marques afirma que, com a concessão, funcionários antigos da CPTM foram desligados, entre eles maquinistas, ex-diretores e técnicos. Com isso, novos empregados foram trazidos para a operação. Isso poderia estar levando a falhas, avalia.

Thiago Nykiel, da consultoria Infraway, especializada em infraestrutura, observa que as operações de trens e metrôs são muito complexas e, quando há transferência do poder público para a iniciativa privada, há sempre um período de adaptação — em que podem ocorrer falhas. Mas, diz o especialista, a concessionária precisa de um plano de ação rápido para não prejudicar os passageiros:

“O poder público nem sempre consegue fazer a manutenção necessária. É preciso um tempo até a adaptação e o ganho de eficiência. Essa transição está sendo dolorosa porque as falhas estão acontecendo com mais gravidade do que se esperava.” 

Documento da ViaMobilidade, obtido pelo portal Diário da Mobilidade e confirmado pelo GLOBO, indicou que a maior parte da frota entregue pela CPTM estaria com “pendências de manutenções”.

Em depoimento ao MP, em maio, o diretor de Operação e Manutenção da CPTM, Luiz Eduardo Argento, disse que os 55 trens entregues à ViaMobilidade estavam em condições de circular e que foram feitas 99,4% das revisões programadas nos últimos cinco anos. Argento disse que nenhum trem apresentava problema que afetasse a segurança da operação e que a concessionária participou da checagem de sistemas e composições.

Em depoimento aos promotores, Francisco Pierrini, diretor-presidente da ViaMobilidade, disse que a concessionária tinha conhecimento de que pelo menos 65% dos trens vieram de outras linhas, tendo sido substituídos ao longo da fase pré-operacional. Pierrini afirmou que, com investimentos, os problemas dos últimos meses serão solucionados.

CPTM vai ajudar

A secretaria dos Transportes Metropolitanos informou que já foram aplicadas multas no valor de quase R$ 8 milhões pelas falhas. Também afirmou que a CPTM irá ceder as plataformas 3 e 4 da estação Barra Funda para facilitar a operação na linha 8, permitindo intervalo menor entre os trens. A estatal também vai disponibilizar peças, oferecer apoio técnico e compartilhar o equipamento utilizado nas madrugadas para manutenção de via.

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, disse recentemente não acreditar ser necessário o rompimento do contrato com a ViaMobilidade. 

Ana Flávia Patrus, advogada especialista em infraestrutura e contratos públicos do escritório Andrade e Silva Advogados, observa que o MP tem a prerrogativa de investigar se o contrato está sendo cumprido. E o poder público pode atuar para melhorar a operação:

“Em tese, romper o contrato é a pior solução porque há prejuízo para os dois lados.”

Pelo contrato, a concessionária terá que investir R$ 3,8 bilhões distribuídos nos primeiros anos da concessão. Procurada, a ViaMobilidade informou, em nota, que “está prestando todas as informações ao MP e focando na melhoria do serviço para a população”.