O dólar opera com alta ante o real, chegando a bater os R$ 5,05, enquanto a Bolsa tem forte queda nesta segunda-feira (2). O câmbio acompanha a movimentação da divisa no exterior, que reflete dados mais fracos de atividade econômica na China e a expectativa de alta dos juros americanos. As dúvidas sobre o crescimento no país asiático também pressionam o preço de commodities e os papéis ligados a esses produtos na B3.
Os investidores começam a semana já no aguardo das decisões de política monetária dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos. No pregão, eles seguem repercutindo a temporada de balanços corporativos do primeiro trimestre aqui e lá fora.
Na cena interna, ainda ganham destaque a divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de fevereiro pelo Banco Central (BC), conhecido como a “prévia do PIB”, e o Boletim Focus, relatório com as projeções do mercado para a economia.
Por volta de 14h10, a moeda americana tinha alta de 2,12%, negociada a R$ 5,0471, após atingir a máxima de R$ 5,0516.
No mesmo horário, o Ibovespa caía 1,91%, aos 105.811 pontos. O principal índice da B3 é pressionado pelo desempenho ruim de papéis ligados a commodities.
Na China, foram divulgados dados fracos sobre a indústria. O índice de gerentes de compras da manufatura no país caiu para 47,4 pontos em abril, ante os 49,5 pontos registrados em março, em um segundo mês consecutivo de contração, informou o Departamento Nacional de Estatísticas, no sábado.
O número abaixo dos 50 pontos indica contração da atividade. Foi a leitura mais baixa desde fevereiro de 2020. O indicador privado medido pela Caixin caiu para 46 em abril ante os 48,1 da leitura anterior.
“Estamos acompanhando o cenário externo. Os dados chineses negativos e a expectativa por novas restrições refletem demais nos ativos de risco. Temos Copom, com o mercado muito atento ao comunicado, que pode indicar o fim do ciclo de alta dos juros e, com o Fed pesando a mão, diminui o diferencial de juros e o impacto na relação entre dólar e real é grande”, disse o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo.
Para Bergallo, o patamar de câmbio próximo aos R$ 5 é a nova realidade, após a moeda americana chegar se aproximar da faixa dos R$ 4,60 há poucas semanas.
“A questão da China sempre pesa. Estamos com receios de ter problemas logísticos e a aquele fluxo estrangeiro, que gerou uma valorização do real em um certo momento, estamos perdendo, porque a conjuntura mudou. Depois que o Fed começou a apontar 0,5 ponto percentual de alta para a próxima reunião, veio uma tempestade que penalizou demais o real, e fez com que o fluxo se invertesse”.
O especialista ainda pondera que o real teve forte valorização no primeiro trimestre do ano. Dessa forma, em momentos de correção, como o atual, é natural que a nossa moeda sofra perdas mais fortes.
O gerente da mesa de câmbio da Tullett Prebon, Italo Abucater, ainda destaca o movimento de valorização dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, o que indica busca por proteção por parte dos agentes.
“Sazonalmente o fluxo de comodities diminui no mês de maio. Marco e abril prevalecem as safras de soja com bastante entrada de exportação e esse ciclo já praticamente se encerrou. Esse ingresso se reduzindo e com todo o cenário global, apenas potencializa a alta do dólar”.
Abucater também destaca que o real tem espaço para corrigir, após o forte desempenho no primeiro trimestre. Para o especialista, fatores internos, como os recentes embates entre Poderes ainda não fazem tanta pressão no câmbio.
“Acredito que o político começará a ter efeito nos mercados a partir do segundo semestre com a proximidade das eleições. No momento prevalece o técnico mesmo com uma semana importante”, disse Abucater, destacando as reuniões de política monetária dos BCs.
“À espera da decisão de política monetária do Fed, que deve apertar o ritmo de ajuste, os mercados seguem atentos à crescente tensão entre Europa e Rússia e aos sinais de desaceleração da economia chinesa. Nesse contexto, as cotações do petróleo e do minério de ferro recuam e o dólar se fortalece em relação à maioria das moedas”, destacou o Bradesco, em boletim matinal.
De olho nos juros
A semana dos mercados é marcada por importantes decisões sobre os juros. No Brasil, a expectativa é que Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic em 1 ponto percentual. Hoje, a taxa está em 11,75% ao ano.
Já nos EUA, espera-se que o Federal Reserve, Banco Central do país, eleve os juros em 0,50% ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1%.
Em ambos os casos, o que os investidores mais aguardam são as sinalizações sobre os próximos passos.
No caso brasileira, a questão é saber quando se dará o fim do ciclo de altas da Selic, que já dura mais de um ano. E no americano, restam dúvidas sobre a velocidade do ritmo de altas e de como se dará o processo de redução do balanço do Fed.
Commodities pressionam Ibovespa
Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) cediam 2,60%, e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 1,85%.
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As ordinárias da PetroRio (PRIO3) cediam 4,76%, e as da 3RPetroleum (RRRP3), 5,36%.
As ordinárias da Vale (VALE3) cediam 2,11%, e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 3,92%.
As preferenciais da Usiminas (USIM5) caíam 1,77%
Os papéis de aéreas também cediam, impactados pela alta do dólar. As preferenciais da Gol (GOLL4) caíam 7,03%, e as da Azul (AZUL4), 7,97%.
No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tinham quedas de 1,61% e 1,17%, respectivamente.
‘Prévia do PIB’ sobe em fevereiro
O IBC-Br subiu 0,34% em fevereiro, na comparação dessazonalizada com janeiro, após queda revisada de 0,73% em janeiro.
Em relação a fevereiro do ano passado, houve alta de 0,66%. Em 12 meses, o IBC-Br subiu 4,82%.
O indicador tem metodologia distinta das contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para divulgar o Produto Interno Bruto (PIB).
De frequência mensal, o IBC-BR permite um acompanhamento mais frequente do estado da atividade econômica.
Boletim Focus: mais inflação
Na semana do Copom, o mercado elevou, pela 16ª semana consecutiva, as projeções para inflação ao término de 2022.
A taxa passou de 7,65% para 7,89%, número bem acima do teto da meta do BC, que é de 5%. Para o fim de 2023, houve elevação de 4% para 4,10%, 4ª elevação consecutiva.
A expectativa para o PIB subiu de 0,65% para 0,70% para o fim deste ano. Para o término de 2023, não houve alteração.
Sobre a Selic, foi mantida a previsão de 13,25% ao término de 2022. Para o fim de 2023, a estimativa subiu de 9% para 9,25%.
Petróleo volátil
Após abirem em queda, os preços dos contratos futuros do petróleo oscilavam entre altas e baixas no período da tarde.
O movimento da commodity reflete as preocupações com o crescimento econômico chinês e a possibilidade do anúncio de novas sanções contra a Rússia.
Por volta de 14h, no horário de Brasília, o contrato para julho do petróleo tipo Brent caía 0,21%, negociado a US$ 106,92, o barril.
Já o preço para o contrato para maio do petróleo tipo WTI cedia 0,20%, cotado a US$ 104,48, o barril.
Bolsas no exterior
As bolsas americanas operavam com direções contrárias. Por volta de 14h, em Brasília, o índice Dow Jones caía 0,71% e o S&P, 0,46%. Em Nasdaq, ocorria alta de 0,44%.
Na Europa, as bolsas fecharan com baixas. A Bolsa de Frankfurt caiu 1,13%, e a de Paris, 1,66%.
Em Londres, a Bolsa permaneceu fechada por causa de um feriado.
Na Ásia, o índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, teve baixa de 0,11%. O dia foi de menor liquidez nos mercados, devido a um feriado que deixou as bolsas da China e de Hong Kong fechadas.