Economia

Mercado está pesando no bolso? Veja quais são os vilões do "prato feito"

Mercado está pesando no bolso? Veja quais são os vilões do "prato feito"


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Os preços dos alimentos que compõem a cesta do prato feito do brasileiro dispararam. Dos 10 produtos, sete tiveram altas expressivas. Somente o arroz subiu 37%, a carne, 32%, e o feijão preto,18%, nos últimos 12 meses, de acordo com um levantamento feito pelo FGV IBRE. Alimentos que poderiam ser substitutos na mesa também seguem em alta: o frango inteiro registrou reajuste de 22% e o ovo avançou 13%, no período. A variação média do cesta do prato feito chegou a 22,57%, segundo FGV.

Para os consumidores, a disparada nos preços está sendo percebida de diversas formas. A advogada Bárbara Vasconcelos, de 31 anos, pedia prato feito em dois restaurantes. Segundo ela, um deles primeiro elevou o valor cobrado pela quentinha, e depois deixou de oferecer a opção. Em outro restaurante, o local reduziu o tamanho da carne do PF, mas não aumentou o valor cobrado:

“Antes, a proteína dava para comer no almoço, e guardar a quentinha para o jantar. Agora só é possível para comer no almoço.”



Em casa, a advogada tenta driblar os efeitos dos aumentos nos preços dos alimentos.

“No supermercado, é uma senhora facada. O arroz e o feijão quase bateram R$ 10, e eles estão na alimentação de quase todo dia na minha casa. Em alguns momentos, substituímos pelo macarrão, mas a preferência é pelo arroz e feijão”, diz ela.

O pesquisador do FGV IBRE Matheus Peçanha avalia que a escalada de preços está sendo causada pelo aumento da demanda por gêneros alimentícios durante a pandemia de Covid-19. Outra fonte de pressão inflacionária no prato brasileiro foi a escalada do câmbio no segundo semestre do ano passado, que estimulou as exportações, reduzindo a oferta interna, sobretudo no caso do arroz, do feijão e das carnes bovina e de frango.

“O câmbio desfavorável leva ao crescimento das exportações, sobretudo dos cereais e das carnes, favorecendo a redução da oferta interna e pressionando os preços” explica o pesquisador.


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Peçanha ressalta ainda que a inflação dos itens do prato feito também é um reflexo das condições climáticas adversas, intensificadas com a estiagem e, mais recentemente, com as geadas. Assim, hortaliças e legumes, com suas lavouras de curto prazo, sofreram mais no período recente, levando a alface a um acúmulo de quase 9,74%, e o tomate a mais de 37%.

Ainda segundo Matheus Peçanha, a estiagem também tem impactado o preços das carnes, reduzindo as pastagens do gado e encarecendo o milho e a soja, que servem de ração para os animais.

Novas altas também nos restaurantes

Para comerciantes que trabalham com o famoso PF, equilibrar o aumento dos custos com a margem de lucro e a qualidade do produto está sendo um desafio. O empresário Anderson Lima Martins, de 47 anos, abriu uma empresa de refeições há 15 anos.

Hoje, ele oferece um prato feito, com sobremesa e guaraná natural, a R$ 18. Segundo Anderson, a disparada nos preços das carnes é o maior impacto. Até as hortaliças estão pressionando o PF. Além disso, outros custos que fazem parte do negócio como o preço das embalagens que subiu nos cálculos dele 150% no último ano.

“Estamos fazendo o cálculo e vamos ter que repassar estes aumentos porque a margem de lucro já está muito apertada. A carne e o frango dispararam. Um quilo de frango que eu comprava a R$ 32, agora passou para R$ 49,90. A batata baroa está quase R$ 10 o quilo. Deixamos de comprar”, conta Anderson Lima, dono do Manjericão.

Para o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, redução na produção dos alimentos em razão da seca pode contribuir para elevar ainda mais a inflação.

“Os grupos Alimentação e Bebidas e Transportes são os que mais pesam no IPCA, acima de 20% cada.”