Reges Bolo em estúdio no Rio Grande do Sul, em 2021 - Arquivo Pessoal/Reprodução

Quem sabe cantar, canta. Quem sabe pular, pula. A frase é do vocalista Reges Bolo, da banda O Surto, dita no show da banda Rock´n Rio 2001, apresentação lembrada nos últimos dias pela morte de Reges, aos 52 anos, no dia 24 de abril, e que e teve Marília no palco com o símbolo da camiseta preta que ele usava.

Bolo faleceu em Porto Alegre, onde morava depois de muitas viagens e mudanças que incluíram perto de seis anos em Marília a partir de uma amizade que começou pouco tempo antes do show no Rio de Janeiro.

Reges Bolo, vocalista da banda O Surto, durante apresentação no Rock'n RIo 2001 com camiseta do movimento Os Bravos, de Marília


Ele chegou à cidade pelas mãos do empresário José Moledo Rodrigues, o Zezinho da Alpave, falecido em 2017, também aos 52 anos. Moledo criou o movimento Os Bravos, de ações ambientais e culturais, e estampava a camiseta de Bolo no show.

Os dois se conheceram quando Zezinho Moledo contratou shows do Surto na região. As apresentações renderam muitas visitas à casa de Zezinho em uma chácara da zona leste – amplificadas por encontros em uma casa de Moledo em Ubatuba -.

A camisa, os shows e a ligação foram lembrados por Felipe Travitzky Rodrigues, filho de Zezinho, em uma postagem em despedida a Reges Bolo.

“É muita história que não saberia por onde começar…Tio Bolo, obrigado meu chapa por todos os ensinamentos e bons momentos, que vc suba em paz, sentiremos saudades. Toma uma com o véio aí por mim!”, postou Felipe.

Com as visitas Reges logo tinha turma de amigos com quem tocava e ensaiava e um amor, Cintia, que virou família por alguns anos e trouxe o vocalista para morar na cidade e ampliar ainda mais a roda.

João Mauro Gambá (esq) com Bolo e a formação da banda O Surto com o músico e produtor de Marília

Alguns destes nomes fizeram homenagens a Reges nas redes sociais e deram alguma visibilidade à sua rápida e marcante vida em Marília. Um deles é o produtor João Mauro Gambá – responsável por boa parte das informações e memórias contidas neste texto -.

“Ele começou a conhecer a galera do Zé, a nossa galera, do show e das visitas. Conheceu a Cíntia, começou a namorar e ficou sério. Ficou sério e ele foi morar com ela em Marília”, conta.

Após turnê no exterior o Surto voltou com divisões. Gambá, que também é baterista, encontrou Bolo e alguns integrantes na casa de Zezinho em Ubatuba e em um ensaio recebeu convite para tocar com o grupo.

 “Toquei com os caras, o baterista havia saído, eu tocava com Rogério Freire na época, Aí me convidaram e entrei na banda antes de ele mudar para Marilia. Todo mundo de banda conhece o Bolo. Ele ficou um cara até comum. No começo era: ‘nossa, o Bolo do Surto’, depois ficou tão amigo do povo que ficou um morador mariliense mesmo. Ficou amigo de muita gente”, diz.

Gambá esteve pessoalmente com Bolo em 2021, quando produziu e atuou como empresário para alguns shows. Passou perto de 15 dias com o amigo em Porto Alegre.

Adriano Sanches com Bolo no palco; homenagem e memórias

Adriano Sanches, que segue no mercado cultural da cidade, lembrou algumas participações de Bolo em outros projetos. “Ele foi produtor de um álbum de uma banda que fiz parte. Tocamos em São Paulo também”, explica.

O guitarrista Marcelo Falafina – nome que ganhou na banda com Reges - foi outro a conviver e tocar com o vocalista por aproximadamente cinco anos na época de Marília. Conheceu Bolo já como morador na cidade.

O Surto na formação com Marcelo Falafina e João Gambá; Reges Bolo seguia no vocal

“A gente ficava semanas lá, ensaiava na casa, terminamos de gravar o terceiro CD da banda”, conta. Uma produção com muitos ajustes buscas por arranjos refinados e mais elaborados, que tomou mais tempo e ficou menos comercial. E muitas memórias.

“Tivemos momentos como um show que a gente fez com a banda em belo Horizonte, no Estádio da Pampulha com 35 mil pessoas”, lembra.

Marília virou centro de produção da banda, apesar do escritório em São Paulo. O espaço influenciou muitos profissionais. “Até hoje existe muita influência, algumas pessoas nem reconhecem, mas que têm muita influência de redirecionamento de mercado, de posturas e até de produção das músicas”, diz.

Gambá e Marcelo participaram de uma gravação em vários estúdios para lembrar 20 anos da banda. A interpretação de Todo Mundo Doido virou vídeo que está no youtube. Assista abaixo.