Marília

“Esperei 11 anos pra ver meu filho sem convulsão”; audiência explica Cannabis medicinal

“Esperei 11 anos pra ver meu filho sem convulsão”; audiência explica Cannabis medicinal

Uma audiência pública promovida pela Câmara de Marília nesta sexta-feira para discutir uso da Cannabis medicinal apresentou projeto para criar um comitê municipal intersetorial para regulamentar e acompanhar medidas de controle, orientação e acompanhamento do uso dos medicamentos.

A audiência apresentou dados técnicos, médicos, legais e experiências pessoais de sucesso com uso dos produtos derivados da Cannabis para fins medicinais.

O encontro reuniu representantes de duas associações de atendimento a pacientes em Marília, a Anjos Guerreiros, de atenção a pessoas com deficiências, e a Maleli Associação Cannábica, recém criada, para organização do uso de remédios à base de Cannabis.

“Precisei esperar 11 anos para ver o meu filho sem crises de convulsão”, disse a vice-presidente da Maleli, Cláudia Marin, mãe de Mateus, usuário de óleo da Cannabis e que empresta inicial de seu nome para a entidade.
 
O marco negativo do encontro foi a baixa participação de vereadores. Dos 13 parlamentares da cidade apenas quatro estiveram no encontro: o presidente Marcos Rezende e os vereadores Wilson Damasceno, Cícero do Ceasa e Danilo da Saúde.

A presidente da Maleli, a enfermeira Nayara de Fátima Mazzini Ferrari, apresentou à Câmara a minuta de um projeto para criação do comitê de política municipal para uso de Cannabis Medicinal.

Mãe de Letícia, que empresta o nome à entidade, ela é testemunha dos benefícios com uso regular, controlado e acompanhado do óleo de cannabis.

O objetivo é garantir direito individual de uso da medicação para tratamento de doenças terminais ou debilitantes, com análise e recomendação de médico habilitado que acompanhe os pacientes.

O projeto prevê políticas públicas para promover acesso, informar e prevenir consequências vinculadas ao uso abusivo de Cannabis, com vedação de propaganda ou promoção da Cannabis de efeito psicoativo.

“É importante, além de oferecer opção terapêutica, garantir que ela seja de qualidade”, explicou Nayara na exposição do projeto.

O médico Joaquim Daniel Augusto dos Santos Silva, do núcleo médico da associação, apresentou resultados de seu envolvimento em anos de pesquisas inclusive junto a um laboratório norte-americano para produção de remédios a partir da Cannabis.

“Foram pesquisas nos Hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês em São Paulo com a maior empresa do setor. O que eu posso dizer que é mães dos Estados Unidos, Canadá, Europa, têm acesso. Que a classe privilegiada do Brasil tem acesso. O que nós queremos uma questão coletiva, de tratar o coletivo”, afirmou.

O especialista explicou que a Cannabis medicinal não é um remédio para as doenças, mas para as pessoas. “Um medicamento que na aplicação para epilepsia melhora artrose, porque cuida da pessoa.”

Destacou que muitos dos pacientes que hoje buscam a cannabis são mães ou idosos que sempre entenderam e trataram a planta da Cannabis com a forma mais pejorativa, que não buscam médico para usar maconha. “São pessoas que buscam qualidade de vida.”

A advogada Karol Doreto Grecchi, do núcleo jurídico da Maleli, apresentou mecanismos jurídicos usados hoje para conseguir acesso aos medicamentos, especialmente o Habeas Corpus, que garante salvo conduto para adquirir e plantar sementes para produção do óleo.

Defendeu mudança na legislação federal para que haja mais acesso e destacou que a lei de combate às drogas prevê autorização para o uso medicinal. “O que nos falta é regulamentação.”