Nasci dia 5 de junho, o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Hoje faço 59 e a alegria de mais um ano se une à dor da morte de minha mãe, no dia 26 de maio, e a morte de minha irmã, em 7 de fevereiro.
Minha mãe tocava violino, pintava, bordava, costurava. Meu pai não era cineasta, mas já tinha a câmera na mão em 1955, quando eles se casaram.
Então, nasci nesse berço. E a caçula, raspa do tacho. Vim rodeada de muito afeto, minha mãe me deu muito amor, meu pai também e fui mimada pelas irmãs.
Nasci na Álvares Cabral, uma casa grande, com muitas árvores. Fazia perfumes com dez anos de idade e pintava camisetas. Tinha uma bicicletinha e carregava um monte de amigas do bairro pra andar de bicicleta junto comigo.
Aos 14 anos, meu pai me deu a primeira polaroide. Aos 15 anos, teve aquele lance de debutante no Tênis. Eu frequentava muito o Tênis Club também. Nadei muito, jogava tênis, ia com a minha sainha, fazer mais agito por causa da saia que pelo jogo mesmo. Mas eu sempre ia lá treinar o tênis.
Física, artes e design
Acabei, aos 17 anos fazendo a faculdade de física, fui pra UEL, em Londrina. Não gostei de nada. E comecei a estudar artes lá em Londrina mesmo. Adorei, eu era boa em tudo.
Nossa, seis meses de artes escondidas do meu pai. Aí meu pai falou: se você parou física e está fazendo artes, vim fazer artes em Marília. Não aguentei, foi horrível.
Comecei a trabalhar com o Nardi, (Luiz Eduardo Nardi, engenheiro), meu pai estava construindo um prédio e me senti na obrigação de fazer a arquitetura para ajudar ele a terminar.
Acabei passando em Campinas, na PUC de Campinas. Fiz cinco anos. No último caí em depressão. Acabei me formando, mas, não era isso.
E comecei a trabalhar como designer gráfica. Voltei para Marília e fiquei um ano trabalhando com logomarca, identidade corporativa.
Só que, como designer gráfico, você sempre acaba fazendo uma logomarca para alguém que está vendendo algo ou para alguém que está comercializando algo.
Fui morar com a minha irmã do meio, a Lígia, em Brasília. Comecei a trabalhar no jornal Correio Brasiliense, em design. E aí foi quando eu comprei o scanner. Em 98,
Escaneando-me
Escanei meu próprio corpo – aliás, foram 60 imagens no primeiro dia que eu instalei, uma catarse -. Levei essas imagens para o diretor do Correio Brasiliense em Brasília. Ele falou: ó, Luciana, isso é arte. Eu falei: é? Por quê?
Ele: porque está você dentro da história e está modificando o uso do aparelho. Além do fato de você falar de você mesma, falando da mulher em geral.
Estava falando da liberdade de expressão e de várias outras coisas que na época eu nem estava me dando conta disso.
Entre 1999 pra 2000 eu parto pra Barcelona com um grupo de fotógrafos e cineastas de Brasília. Era para passar só sete dias, fiquei três anos.
Em Barcelona comprei outro scanner e apresentei meu trabalho para galerias. Acabei expondo em vários países: Alemanha, depois em Nova Iorque, Canadá, França, Portugal…
Eu já estava satisfeita comigo mesma ali. E eu sabia que era um trabalho original, importante, significativo
Depois eu vinha para cá, ficava três, quatro anos, aí eu voltava, ficava três, quatro anos. E assim foi.
Mãe
Quando meu pai faleceu, eu fiquei mais tempo aqui cuidando da minha mãe. Eu estive do lado dela todo o tempo, porque eu sabia que era a pessoa mais importante da minha vida.
Eu briguei muito quando eu era adolescente, porque ela tinha um ideal que não era o meu. Mas hoje eu já entendo toda a preocupação. Coisa de mãe.
Agora volto pra Marília, mantenho lá o meu ponto em Barcelona, tenho obras do Scanner lá em Barcelona, mas devo permanecer um tempo aqui.
Pretendo realizar mais. E agora estamos só tá eu a minha irmã, Lígia, minhas três sobrinhas. A família diminuiu.
E tudo me faz pensar que o amor que eu tive do meu pai e da minha mãe fez nascer a Luciana que, afinal, eu sou hoje. Forte, artista, criativa, brincalhona e amorosa com os meus amigos. É isso.